21 de novembro de 2024
ARTIGO

Mal informados na era da comunicação


| Tempo de leitura: 3 min

O resultado de uma pesquisa feita pela Reuters em 2023 choca, mas não surpreende.

Segundo o Digital News Report 2023, publicado pelo Instituto Reuters de Estudos de Jornalismo, 30% das pessoas preferem acessar notícias pelas mídias sociais.

Só no Brasil, 79% consomem notícias online e 57% dos brasileiros afirmam ver notícias pelas redes sociais, sendo WhatsApp, YouTube e Instagram as primeiras opções como fontes de informação.

Nada de novo no front, mas o comportamento do consumidor de notícias tem mudado, também, a forma de divulgação de informações pelos perfis que o fazem. E isso tem assassinado, cada vez mais, o jornalismo.

Isso porque não existe mais nenhuma ética. O que vale são títulos chamativos, sensacionalistas e os chamados click baits -- quando o título é uma espécie de isca para uma notícia que não necessariamente vai mostrar o que o título sugere.

A revista Veja, conhecida como ser a “imprensa marrom” da década de 90, por usar de artifícios nada bacanas para promover suas reportagens, fica no chinelo com tamanha audácia desses novos “canais”!

Perfis ultra populares misturam fofocas de famosos, memes, vídeos engraçados e informações sérias. Entre eles estão Choquei, Metrópoles, Fofoquei, entre outras centenas, que somam milhões de seguidores.

E estar no topo dos mais seguidos não significa fazer conteúdo de qualidade. Muito pelo contrário. A técnica é, mais ou menos, um copy-paste dos conteúdos de todos os portais de notícias sérios ou não, postando, a todo momento, um destaque rápido e incisivo sobre o que está acontecendo.

Para isso, não espere imagens de alta qualidade ou um design sofisticado. Afinal, ninguém tá ligando muito para isso. A ideia é chamar a atenção da audiência, entreter, chocar, entristecer, da melhor (ou pior) forma possível, com o único objetivo de engajar.

Geralmente, os perfis adicionam expressões como “Nossa”, “Atenção”, “Veja” e “Chocado”, atiçando a curiosidade. O bom espectador não vai apenas consumir, mas curtir e comentar -- a tríade de verbos perfeita para estes perfis.

Criar, mesmo, ninguém cria nada! Por exemplo, o G1 posta uma notícia: “Menino de três anos foge da creche”. O perfil Choquei copia o post que o G1 fez em suas redes sociais, adicionando o vídeo publicado pelo canal e um texto nos comentários com a notícia ultra reduzida.

O post, bem mal feito e que deve ter custado cinco minutos do tempo do seu criador, teve 200 mil curtidas e 2.900 comentários.

Detalhe, o G1 tem 9,2 milhões de seguidores no Instagram e o Choquei tem 21,3 milhões.

O mesmíssimo conteúdo é republicado em mais outros perfis menores, gerando uma verdadeira avalanche de copia-e-cola (ou seria roubo?). Isso vale também para vídeos e fotos sempre sem o devido crédito no mais perfeito antiprofissionalismo de comunicação.

Os próprios fofoqueiros denunciaram a máfia que existe nas redes sociais. Em 2021, o site Metrópoles, na época com Leo Dias (ícone mor do jornalismo de fofoca) em sua equipe, publicou uma reportagem sobre perfis que ganham cerca de R$ 10 mil por dia publicando fofocas positivas ou negativas sobre celebridades.

E se o famoso for vítimas de cancelamento, o número de posts sobre ele aumenta ainda mais, gerando um engajamento monstro que perdura por dias e gera ainda mais faturamento. E dane-se se é verdade, mentira ou se isso vai prejudicar alguém.

O fato é que, apesar de ainda existirem canais de comunicação confiáveis, com jornalismo responsável e feito com ética, está cada vez mais difícil achar que o futuro da informação seja promissor.

Fica a dicotomia: nunca antes estivemos tão conectados e nos comunicando com tanta frequência, ao mesmo tempo que nunca estivemos tão mal informados.

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