"Eles andam pela sala e olham diretamente através de nós, falando como se nós não existíssimos. Mas nós existimos".
Esse é um trecho da música We Exist, da banda canadense Arcade Fire.
Em toda sua dura poesia, a canção narra uma situação comum para pessoas que fazem parte de grupos minoritários socialmente, a falta de empatia da sociedade.
"Eles estão de joelhos nos implorando, por favor, rezando para que não deixemos de existir."
É difícil entender como alguém prefere negar a aceitar a existência de um determinado grupo social ao invés de incluí-lo. Um mundo tão diverso de tipos de pessoas, comportamentos, estilos, orientações, caminhos diferentes que se seguem, muitas vezes por escolha, outras não.
Um mundo colorido que muitos enxergam em preto e branco. Para quê? Em uma sociedade tão monocromática é preciso movimentos para colori-la.
Junho é considerado o mês do orgulho LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queer, Intersexo, Assexuais e outras) nos Estados Unidos, em toda a Europa e em outros países como o Brasil.
O mês foi escolhido para relembrar os motins em Manhattan, nos EUA, que ocorreram no final de junho de 1969. Na madrugada de 28 de junho daquele ano, há mais 50 anos, uma multidão incluindo lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros se revoltaram após uma batida policial em um bar LGBTQIA+ de Nova York.
O tumulto se transformou em diversos protestos nas noites seguintes que foram o divisor de águas no movimento. Isso deu início às marchas LGBTQIA+ em escalas maiores como conhecemos hoje em dia, em forma de celebração e orgulho.
Celebrar o orgulho é reconhecer o impacto que as pessoas LGBTQIA+ tiveram no mundo, lembrar as vítimas da homofobia e lutar por um futuro melhor. Enfatizar que estas pessoas existem, por mais que tentem dizer o contrário.
Mas por que precisamos gritar que temos orgulho de ser quem somos?
A comunidade LGBTQIA+ não se sente melhor do que o padrão heteronormativo para celebrar nada. Mas, em pleno 2024, ainda enfrenta resistência por existir em uma sociedade repleta de preconceito e conservadorismo que vai além do xingamento em redes sociais.
O Brasil registrou 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ em 2023, uma a mais que 2022, e segue como país mais homotransfóbico do mundo. Isso significa uma morte a cada 38 horas no ano passado.
Os dados são do Grupo Gay Bahia (GGB), a mais antiga ONG LGBT da América Latina, que coletam informações de notícias e dados pela internet, denúncias, entre outros meios. Isso porque não é obrigatório no Brasil registrar uma morte violenta como crime de ódio contra a população LGBTQIA+, o que deixam os dados muito fracos.
Por isso mesmo, a quantidade é subnotificada, já que a ONG contabiliza os crimes por meio de ajuda de voluntários.
Os gays sempre estiveram no topo desta lista, mas, em 2023, pela primeira vez, mais travestis e transexuais foram mortos, denotando a transfobia crescente na sociedade brasileira.
Há ainda o suicídio relacionado à homofobia e perseguição sofrida por LGBTQs, muitas vezes vindo da própria família.
Essa é uma das provas de que pessoas LGBTQIA+ morrem por existirem. São mortas -- ou tiram a própria vida -- por serem o que são e não pelo que “escolheram ser”, como muitos ainda acreditam.
É por isso mesmo que é preciso sempre reforçar a luta e o orgulho da comunidade LGBTQIA+. No último fim de semana, centenas de milhares de pessoas compareceram à avenida Paulista, em São Paulo, na Parada LGBTQIA+ para levantar a bandeira do arco-íris e dizer: “Sim, nós existimos!”.
Desta vez, o colorido se misturou ao verde-amarelo para demonstrar o orgulho de ser uma comunidade LGBTQIA+ brasileira e dizer que somos parte desta nação e das cores que a representam.