Em virtude das tristes ocorrências registradas no Rio Grande do Sul e de diversas elucubrações sobre as causas ou culpados desta tragédia, tomei a liberdade de apresentar o meu ponto de vista. Antes, porém, gostaria de me solidarizar com todas as vítimas das inundações e dizer que estamos rezando e trabalhando para que o Estado se recupere, com a certeza de que a resiliência dos gaúchos vai se sobrepor as intempéries apresentadas nos últimos dias.
Temos sempre a tendência de procurar um culpado pelas mazelas da nossa vida. Neste caso poderiam ser as mudanças climáticas, a falta de planejamento dos gestores públicos em projetos de infraestrutura para evitar as enchentes, a ausência de um plano de contingência para desastres ou mesmo a falta de integração entre os poderes municipais, estaduais e federais
A verdade é que não existem culpados diante de eventos climáticos que atingem 700 mm de chuvas no período de três ou quatro dias. Algumas iniciativas pontuais poderiam no máximo, minimizar as consequências, mas diante deste volume de chuvas é impossível manter o controle da situação.
Para efeito de comparação, tivemos chuvas em 2022 de 162 mm num período de três dias na cabeceira do Córrego Piracicamirim e os efeitos foram sentidos em vários pontos de alagamento em toda Piracicaba. Mas graças a Deus, somente com alguns prejuízos materiais, nada comparável ao Rio Grande do Sul.
Mesmo as ações para mitigar as mudanças climáticas demandam um esforço global que, se iniciadas hoje, demorariam mais de 50 ou 100 anos para surtirem efeitos sobre um evento climático da natureza e intensidade como o ocorrido no sul do país.
O Japão é um exemplo. Dá para acabar com os terremotos no leste do continente asiático? Não! Mas assim como os japoneses, temos que lidar com estes eventos e minimizar os seus efeitos negativos. No Japão todas as normas de edificações foram revistas visando aguentar impactos de alta intensidade na escala Richter. Além disso todas as crianças nas escolas aprendem a como proceder em caso de terremoto e várias cidades e empresas fazem simulações de eventos para garantir a segurança das pessoas. Com isso os impactos gerados pelos terremotos têm sido minimizados e muitas vidas salvas.
Foi apenas a partir desta gestão que iniciamos um processo de ações visando reduzir potenciais impactos gerados por eventos climáticos de grande porte. Começamos pelo desassoreamento do Córrego do Piracicamirim, posteriormente do Córrego do Enxofre e por fim do Rio Piracicaba.
Além disso, iniciamos os estudos para a construção do 1º Parque Linear no Córrego Piracicamirim, para que possamos ter reservações que ajudem a conter grandes volumes de chuvas.
Também estamos contratando o laudo de análise do Córrego Itapeva, para entender a realidade da situação do mesmo e quais ações devemos tomar para evitar as enchentes localizadas ao longo da Avenida Armando Salles de Oliveira.
Em vários pontos da cidade estão sendo feitas obras de drenagem e mudanças das capacidades de vazão dos sistemas. Também estabelecemos um processo de monitoramento da vazão da represa em Americana, controlada pela CPFL, de modo que possamos ser informados com antecedência sobre eventuais mudanças drásticas de vazão, tendo assim tempo hábil para avisar as famílias para se prepararem ou, eventualmente, evacuar pontos de possível alagamento.
Devemos então ter ciência que os eventos climáticos drásticos vieram para ficar e ocorrerão com mais frequência. Sejam chuvas intensas ou secas e falta d’agua nas regiões do Brasil.
Que nossos gestores sejam responsáveis nas ações de prevenção e que aprendamos com experiência japonesa que é possível buscar o caminho da sabedoria para evitar tragédias anunciadas.
Luciano Almeida é prefeito de Piracicaba