23 de novembro de 2024
ARTIGO

Há o que celebrar?

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 3 min

No último 7 de abril foi celebrado o Dia do Jornalista. Mas será que nossa categoria tem alguma coisa relevante para celebrar?

Nos últimos anos, a profissão tem perdido cada vez mais seu espaço para outros tipos de comunicadores e formatos de mídia que confundem o espectador, na linha tênue entre entretenimento e informação, fantasia e realidade, fato e meme.

Em 2024, completam-se 20 anos em que dei meus primeiros passos na faculdade de jornalismo. Naquele ano de 2004, porém, as coisas eram bem diferentes do que são hoje.

Uma discussão que eu nunca esqueço de ter entrado, logo nos primeiros meses de faculdade, era sobre a obrigatoriedade do diploma. Debates acalorados aconteciam em sala de aula, com argumentos favoráveis ou contrários.

Em 2009, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram que não era preciso ser formado em Jornalismo para exercer a profissão. Olhando para o presente, qual reflexo vemos dessa decisão?

De modo geral, menos pessoas estão se formando jornalistas. Não só porque a diplomação não seja obrigatória, mas também porque existem cada vez menos jornais e vagas de emprego. Basta ver a realidade de redações enxutas em todo o país.

Segundo dados do IVC (Instituto Verificador de Comunicação) observados pelo Poder360, houve uma queda de 16,1% na circulação média de jornais em 2022.

Também não é segredo nenhum que a internet ocupou o espaço de procura por informação.

A pesquisa Digital News Reports, publicada pela Reuters, mostrou que 30% das pessoas tendem a acessar notícias por meio online, via redes sociais.

Entre as redes mais acessadas no momento estão o YouTube e o TikTok. Isso porque o conteúdo de vídeo prende mais a atenção do que o escrito.

A população, entre 18 e 24 anos (44%), tende a utilizar o TikTok como principal rede social, sendo que 20% deste público escolhe o aplicativo para ver notícias.

O modo de fazer e publicar notícias, conforme já notado, mudou. O que temos visto são páginas de redes sociais como Instagram e Twitter se tornando fontes de informação.

Entre os exemplos mais conhecidos de sucesso neste modelo está o Choquei! O perfil publica desde fotos de celebridades a notícias que vão do Big Brother à Guerra na Ucrânia, sempre com legendas sensacionalistas.

E centenas de outros perfis parecidos brotam regularmente com o mesmo tipo de conteúdo “copia e cola” sobre o assunto do momento.

No mundo dos podcasts, basta um microfone e um cenário para transformar qualquer Zé Ninguém em especialista. Há todo um universo paralelo de apresentadores desinformados que sequer conseguem formular uma pergunta e criarem cortes polêmicos para viralizar.

Vale de tudo para ganhar clique, e a verdade ou a checagem da informação é irrelevante nestes casos.

Pesquisa recente da Poynter Institute descobriu que 44% dos brasileiros recebem notícias falsas diariamente e boa parte repassa sem checar.

Não à toa, muitas outras pesquisas mostram a desconfiança dos brasileiros em relação às notícias. Afinal, o que é real e o que não é? Quem de fato confere a informação se não há necessidade de um jornalista responsável para fazer isso?

Uma boa faculdade de Jornalismo não ensina apenas a técnica para noticiar de forma clara e objetiva. Ela é essencial para formar um jornalista completo. A formação é necessária para plantar em nós uma semente. E é nesta semente que está presente a ética jornalística.

No ano passado, especialistas em comunicação voltaram a defender que o STF reveja a decisão de retirar a obrigatoriedade de diploma para o exercício do jornalismo. Eu assino embaixo!

Apesar de ser possível encontrar veículos e profissionais sérios, que buscam os fatos de forma correta e profissional, existe um outro lado mesquinho e nefasto que busca o lucro em cima de qualquer coisa que têm a audácia de chamar de informação.

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