21 de dezembro de 2024
ARTIGO

Aspectos da família

Por Andre Sallum |
| Tempo de leitura: 3 min

Quando observamos o mundo à nossa volta, inevitável se torna considerar os aspectos familiares e sociais em que nos vemos inseridos. As famílias, como células da sociedade, têm se deparado com múltiplos desafios, e os papéis dos seus membros têm sofrido significativa mudança.

Os modelos tradicionais de família têm cedido espaço a novas configurações, algumas delas mais inclusivas e acolhedoras, outras mais conflituosas e disfuncionais. Nesse difícil aprendizado, à custa de suor e de lágrimas, de erros e acertos, continuamos experimentando até que aprendamos a conviver melhor. Os papéis mais rígidos, dentre os quais a autoridade parental baseada em ameaças, cedem lugar a uma crescente necessidade de diálogo, em que os jovens, informados e questionadores, sejam ouvidos quanto a seus anseios, aspirações e dificuldades. Ao mesmo tempo, tem havido excessiva permissividade com relação aos mais jovens, desde o uso indiscriminado de ferramentas tecnológicas até os comportamentos sociais, quando transgridem e extrapolam em quase todos os setores da vida, com consequências muitas vezes desastrosas.

Se por um lado as modernas tecnologias oferecem um universo de informações que descortinam horizontes até há pouco inimagináveis, essa mesma facilidade, sem a necessária educação e os princípios éticos que lhe orientem o uso, põem em risco a integridade psicológica daqueles ainda sem suficiente maturidade e discernimento.

Crianças e jovens precisam, como expressão amorosa, além de afeto, também de disciplina, de orientação e principalmente do exemplo dos pais e educadores. Se estes convivem em harmonia, se são emocionalmente presentes, se estão atentos e disponíveis para ouvir e educar, a tarefa certamente se torna mais fácil.

Em qualquer processo educador, principalmente no âmbito familiar, a espiritualidade tem papel preponderante. Não nos referimos a convenções, imposições ou práticas ritualísticas – de pouco ou nenhum valor – mas a uma sincera busca da dimensão espiritual, ao cultivo da fé, a atividades altruístas e ao aprimoramento do caráter. No caso dos jovens, que vivem uma fase de instabilidade, impulsividade e conflitos, esses elementos, se estiverem presentes, poderão servir como referência e roteiro seguros.

Os caminhos espirituais e religiosos autênticos exaltam o papel da família como núcleo fundamental, cuja integridade, sanidade e harmonia é fator imprescindível à preservação da sociedade.

As famílias nos parecem laboratórios vivos onde começamos a exercitar a fraternidade, rumo a expressões mais amplas e elevadas de amor. Nesse sentido, nossa predileção por determinados seres, que nos merecem toda a atenção e cuidados, ao lado de nossa indiferença quanto à condição de irmãos que vivem fora de nosso recinto doméstico e que não nos partilham laços consanguíneos, refletem o tamanho de nosso egoísmo e a dimensão de nossa ignorância, ainda que nos rotulemos de religiosos.

Sob uma perspectiva espiritual, todos os seres possuem a mesma origem e natureza, compreensão essa que nos possibilita, ainda que gradualmente, sentir a humanidade como nossa imensa família. Essa visão inclusiva e abrangente, se não extingue, ao menos ameniza nossas tendências exclusivistas, possessivas e egocêntricas, as quais se mostram particularmente fortes quando se trata de vínculos familiares. Por isso, sabe-se que ampliar a concepção de família é um importante passo da nossa espiritualização, favorecendo a vivência da fraternidade e a conquista da paz.

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