21 de dezembro de 2024
ARTIGO

Eduardo Rufino, uma referência.

Por Gilmar Rotta |
| Tempo de leitura: 3 min

Os negros sempre precisaram se esforçar mais, se impor mais, ser mais forte para não desistir. E Eduardo Rufino nunca desistiu. Um grande homem, um homem negro que, além de todo ensinamento que compartilhava quando diretor do departamento legislativo, ainda ensinava cidadania, igualdade, respeito e muita resiliência.

Na Câmara de Vereadores de Piracicaba, seu Rufino foi um grande servidor na essência mais pura da palavra. Todos os dias ele acabava por construir um exemplo de respeito e valorização do Legislativo Municipal, projetando, em todos nós que ali estávamos também como funcionários, a vontade de construir uma Câmara administrativamente forte.

Em 1990, depois de dois anos da promulgação da Constituição Federal, a conhecida constituição cidadã, Piracicaba se debruçava para construir a sua Lei Orgânica, a sua carta magna, a que rege toda a vida da cidade e talvez tenha sido este o maior momento em que a grandeza de Rufino se fez ainda maior.

Frente ao Departamento que conduziu toda a organização, discussão, pareceres, debates, audiências públicas, o ouvir da sociedade, a compilação de todas as informações e artigos que, somados, passariam a reger a vida política, administrativa e sociedade de Piracicaba.

Rufino era de uma generosidade ímpar. Paciente, atento aos detalhes, tinha um grande prazer em ensinar todo o trabalho a quem, como eu, estava sedento por fazer daquela oportunidade de trabalho uma trajetória de vida. E era o justamente o seu perfil de quem sabia a importância de servir, como a necessidade de ser ali uma referência, que garantiu tantos avanços na Câmara e na organização política da cidade.

Ainda naqueles anos, o preconceito com negros e negras – que perdura até os dias de hoje – existia e, mesmo que Rufino não empunhasse bandeiras de defesa de movimentos, ele, em si era a grande resistência. À medida em que conquistava o respeito da sociedade, dividia com todos os demais negros o orgulho de sua ancestralidade e o quanto tantos sofreram para que ele pudesse estar ali.

Não tenho dúvidas de que Rufino foi determinante, não só para mim, que começava a escrever uma história com a Câmara, mas por todos que buscavam Rufino para aprender, tirar dúvidas, receber conselhos, enfim, absorver do seu conhecimento para seu crescimento profissional.

Por isso, diante do primeiro feriado estadual da Consciência Negra, busquei entre tantos negras e negros que tenho o privilégio de conviver, um nome que me fizesse refletir mais uma vez o quanto é importante que os grandes exemplos precisam ser destacados. Não pela cor, mas pela coragem, pela resistência, pela força que têm porque, diferente de nós, não negros, eles precisam provar diariamente que são capazes. Quando, na verdade, nada mais bastaria do que simplesmente serem capacitados e preparados para os desafios que se propõem, como qualquer pessoa.

Sabemos que estamos ainda muito distantes de todos pensarmos assim, reconhecermos assim, mas grandes exemplos não têm cor. Grandes homens e mulheres são grandes homens e mulheres, independente da cor de sua pele ou da sua origem. Assim como Rufino e tantos outros, conhecidos ou anônimos, que desenham, escrevem e eternizam a história da nossa cidade.

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