06 de outubro de 2024
ARTIGO

No contrapé da história

Por Walter Naime |
| Tempo de leitura: 3 min

No âmbito das necessidades prementes e da escassez de recursos, os símbolos históricos encontram-se relegados a segundo plano quando se trata de manutenção e preservação.

Em um cenário em que os investimentos são direcionados para obras urgentes e questões contemporâneas, o patrimônio histórico sofre um abandono silencioso. À medida que o tempo passa, essa situação vem piorando.

Os conselhos conservacionistas, notadamente o CONDEPHAT, Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico, e o CONDEFHAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico, encontram-se diante de desafios muito sérios. A falta de recursos e a competição por atenção levam a um dilema, como garantir a preservação da herança cultural em face às demandas imediatas da sociedade?

Os exemplos desse descaso são observados em todos os pontos do país, onde as memórias são postas de “escanteio”. Praças históricas, monumentos centenários e edificações que contam a trajetória do Brasil enfrentam a erosão do tempo e a indiferença das autoridades.

Com isso, os conservacionistas que protegem a tradição e a história, se vêem em “palpos de aranha” para julgar, como não deixar o novo tomar conta do que é tradicional, incluindo nas obras novas o cuidado de respeitar o passado.

As nossas cidades têm sido vítimas desse procedimento, pois a maior parte das referências históricas se encontram nas regiões urbanas.

Notamos que, quando tudo vai indo para um lado, o outro, como proeminente, se esbarra em dificuldades diante do contrapé da história, pondo em risco de colisão esses veículos materiais e imateriais.

Esses veículos, que circulam normalmente, dirigidos por quem tem interesse em atingir seus intentos, usam de esquemas e conseguem trafegar sem colisão, desviando e fazendo novas interpretações legais, e assim a caravana passa enquanto os “carneiros berram”.

Preservar a história não é apenas um ato de reverência ao passado, mas também um investimento no futuro. O equilíbrio entre as necessidades do presente e a preservação do patrimônio é um desafio, mas um desafio que a sociedade e seus líderes devem enfrentar com determinação e visão de longo prazo. O contrapé da história só pode ser esperado com ações coordenadas em um compromisso firme com a herança que define nossa identidade.

O papel das autoridades assume importância nesse contexto. É necessário questionar como podem os líderes equilibrar as necessidades presentes com as responsabilidades de preservar a história.

A resposta está na abordagem estratégica que envolve a comunidade, o setor privado e o poder público.

Depois de não ter colidido com outro veículo nestas pistas de situações, em contrapé das direções, sugere-se que, assumidas as condições colaterais, baseadas em planos, ideias e projetos, se junte a eles os projetos de viabilidade econômica e financeira a fim de melhorar o cerco das garantias que possibilitam o sucesso que a empreitada exige, não resolvendo um problema e criando um maior.

Com essas diretrizes devemos facilitar para o que tem que ser feito não perca a oportunidade daqueles que se oferecem como proposta, com o risco inerente de avançar na execução para eliminarmos o elefante branco do caminho.

Empurrar elefante na subida já não é fácil. Evitemos ter que segurá-lo na descida no contrapé da história.

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