23 de novembro de 2024
ARTIGO

A gente não precisa opinar sobre a guerra

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 3 min

O conflito que está acontecendo na Faixa de Gaza, entre Israel e Hamas, tem causado um horror sem precedentes com famílias inteiras sendo dizimadas todos os dias.

É um choque e, mesmo longe, acaba afetando também a nossa vida.

Afinal de contas, não dá para viver normalmente sabendo que uma guerra sangrenta está rolando no mundo.

Até por isso, o conflito real acaba estremecendo as arestas do mundo virtual.

Na internet – em redes sociais, principalmente – a guerra tem sido um elemento polarizador, assim como quase tudo hoje em dia.

De um lado, defensores ferrenhos de Israel, que colocam a bandeira do país em suas fotos de perfis ou status em redes sociais, esquecendo dos horrores causados pelo Estado contra o povo palestino.

De outro, os defensores da Palestina, muitos deles extrapolando e “passando pano” para o Hamas, grupo terrorista que matou muitos inocentes no ataque de 7 de outubro.

Não por acaso, as frentes citadas, muito frequentemente, são defendidas, respectivamente, por direita (ou extrema-direita) e esquerda.

Na minha ínfima importância dentro deste debate, resolvi que não preciso opinar sobre essa guerra.

Primeiramente, porque não sei exatamente o que está acontecendo e, apesar de já ouvir muitos podcasts sobre o tema e ler reportagens que me colocaram a par do conflito e seu histórico, não me sinto confortável para dizer que sei de alguma coisa.

Depois, porque não concordo com nenhum dos lados e, simploriamente, digo a máxima charlatanice de que “violência não vale a pena” em situação nenhuma.

Até que eu entenda de fato sobre o que acontece vou continuar neste modo silencioso.

Me sinto muito melhor assim, não precisando passar a vergonha de gravar videozinhos ou fazer posts bem cafajestes para ganhar meia dúzia de likes em cima de um tema tão grave.

Deixo a opinião sobre essa guerra para articulistas que de fato tem know-how sobre o assunto, especialistas que podem argumentar, com precisão, de que lado a corda está sendo puxada com mais justiça – se é que isso exista por lá.

Muitos dos mesmos que hoje estão com suas bandeirinhas asteadas na fotinho sorridente da rede social são os que ignoram o dia a dia trágico das nossas favelas, o massacre infantil que rola solto nas periferias, com os tiros certeiros da Polícia Militar em jovens e crianças negros. Não que um tenha que anular o outro, mas será que toda esse senso de justiça e compaixão não é mais uma excitação midiática que nos faz querer estar em voga?

Nesses momentos, em que uma guerra parece ter se tornado popular, vejo as notícias quase saindo da editoria Mundo e entrando para o Entretenimento, tal qual a sede por mais e mais fotos e vídeos chocantes que o público quer consumir até cansar.

Cansaço esse que se vê em outra guerra, na Ucrânia, apagada pelo conflito bélico eminente.

O conflito me deixa indignado, é claro. Não há como deitar a face sobre o travesseiro sem que se tenha visto algo que choca, entristece e nos faz pensar: “que ano é hoje?”.

Pulsa-me dizer e estrebuchar contra as religiões, maiores alavancas de praticamente todas as guerras, como sempre. Além disso, a sede de poder e grana e conquista de território, que abrange muito mais do que Gaza e seus arredores, envolvendo também de EUA à China, passando por todo o continente europeu e asiático, que têm sangue respingado até o talo com toda essa história.

Pego-me pensando nas crianças palestinas, jovens israelenses lutando por algo que não escolheram, assim como russos e ucranianos, e guerras africanas nunca mencionadas, chegando a ataques em escolas, bem ali, na nossa fuça.

“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”, já diz Nando Reis em seu Relicário.

Mas fico mesmo com a frase de uma música de Rita Lee e Henrique Bartsch, nunca lançada, que diz: “Nossa Faixa de Gaza é na Cidade de Deus”.

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