06 de outubro de 2024
ARTIGO

A Visão da Cidade como um Direito

Por Prof. Adelino Francisco de Oliveira |
| Tempo de leitura: 3 min

O direito à cidade consiste em repensar a vida urbana de maneira a colocar em primeiro plano a coletividade, fortalecendo a compreensão de cidadania. Ultrapassando a noção comum de liberdade centrada no acesso individual aos bens urbanos, o direito à cidade tem como horizonte o direito coletivo. Ampliando os espaços públicos, a cidade deve privilegiar o encontro, o compartilhamento, a vida tecida em conjunto.

 Pensar e edificar a cidade a partir dos interesses da coletividade, do bem comum desponta como o grande desafio do contemporâneo. A urbe, o espaço urbano, que foi politicamente concebida para equacionar a integração e a convivência, enfrenta talvez sua maior crise. Temas diversos e profundos no campo dos direitos sociais, políticos e civis despontam como problemas urgentes a serem enfrentados.

Torna-se imperativo o pensar político, a articular e propor novas ideias e possibilidades para a vida em sociedade. A política em um sentido genuíno, filosoficamente compreendida como a arte de organizar a cidade visando, sobretudo, o bem coletivo. Eis o ponto fundamental: construir a cidade como um direito de todos.

Esse poderia ser também um ousado projeto para todas as cidades. Em um cenário nacional tão carente de referências e perspectivas políticas, seria muito sugestivo contemplar uma Piracicaba a se elevar como exemplo de vida urbana, resgatando o significado mais forte e original do fazer político. Para isso torna-se fundamental trazer novas propostas de gestão pública, centrar ideias, ponderar caminhos, vislumbrando outras dinâmicas políticas.

Abrindo para conjecturas políticas ou mesmo para simples devaneios utópicos, talvez em Piracicaba, cidade de médio porte, com forte potencial econômico, que ainda preserva características interioranas, seja possível inovar, criando novos parâmetros políticos para tantas áreas essenciais e críticas – educação, habitação, segurança pública, saúde, mobilidade urbana etc. Repensar a lógica das questões sociais em chave complexa, articulando toda a sociedade em um amplo movimento político de autêntica renovação, enfatizando o direito à cidade como princípio fundamental.

É preciso representar o perfil das próprias lideranças políticas, a se revelarem aptas e qualificadas para conduzirem um intenso processo de transformação social. Talvez aqui seja imprescindível a representação do governante, portador de múltiplas competências, todas colocadas a serviço do desenvolvimento da cidade. Não bastam boa vontade e oratória cativante, é fundamental o preparo técnico e teórico, alinhados à habilidade da articulação ética e política. Assim, as lideranças políticas devem estar menos implicadas com autopromoção e mais voltadas aos interesses do bem coletivo.

Torna-se fundamental ressaltar que Piracicaba já se faz uma cidade pujante, com múltiplos talentos, tantas possibilidades, pronunciado pendor para a arte, em um ambiente que pode se abrir sempre mais para a diversidade cultural e étnica. Mas ainda há muito a se construir para que Piracicaba possa se despontar como um celeiro de novas perspectivas políticas, a aglutinar verdadeiras, ousadas e amplas práticas de promoção social, rompendo com todo tipo de exclusão.

Oxalá, possamos contemplar uma Piracicaba que se revele como o lugar da plena cidadania, o espaço de todos, a resgatar as possibilidades da política, como arte de bem governar. O profundo sentimento de pertencimento e de solidariedade podem se constituir como o cimento desse ousado projeto de cidade como um direito.

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