25 de dezembro de 2024
ARTIGO

O Reino da Liberdade

Por Prof. Adelino Francisco de Oliveira |
| Tempo de leitura: 3 min

Sobreviver tem sido a grande urgência cotidiana para a imensa maioria das pessoas. Mas qual o tempo de uma existência? Quantos anos, em média, as pessoas vivem? Uma jornada de 80 anos já pode ser considerada como uma vida bem longeva. No Brasil, segundo os últimos dados do IBGE, a expectativa média de vida não ultrapassa os 77 anos. Conforme a região do país e as condições gerais de como se vive esse tempo pode ser muito menor. Dos anos de existência quanto tempo e energia se gastam para se suprir as necessidades mais fundamentais da vida?

O reino da necessidade! Quais são as necessidades mais básicas? Poder se alimentar um mínimo de três vezes ao dia; ter acesso à água potável; ter um lugar onde reclinar a cabeça e poder descansar; utilizar roupas? O que mais deveria ser considerado como necessidade básica, como um direito fundamental? Frequentar uma escola; ter acesso a meios de transportes para se locomover; ter atendimento à saúde; ter oportunidade de fazer alguma atividade física? O que deveria ser acrescentado a essa lista mínima de necessidades imprescindíveis?

A jornada de trabalho pode ser longa e também muito exaustiva. No decurso da história essa jornada já teve mais de 14 horas, isso quando a escravidão não impôs um tempo infinito para o trabalho. Em um avanço civilizatório chegou-se ao consenso de 8 horas de trabalho por dia. Agora, no período do empreendedorismo neoliberal, voltou-se a uma jornada de trabalho que ultrapassa qualquer bom senso. O fato é que uma grande massa populacional trabalha incansavelmente para garantir o mínimo daquilo que socialmente se considera como necessidade fundamental.

Tornou-se imperativo trabalhar até morrer para se alcançar as condições mínimas para se viver de alguma maneira! Perdura uma lógica econômica, perversa e brutal, que permite com que apenas alguns poucos vivam em abundância, enquanto uma imensa maioria padece sob o signo de uma vida sem horizontes, em um cotidiano de trabalho árduo e penoso, que rouba todas as energias vitais, encurtando o tempo da existência e precipitando a própria morte. O paradoxo é que trabalhar para viver, na dinâmica do capitalismo neoliberal, significa morrer de trabalhar!

O reino da liberdade é outra coisa, pois consiste em projetar o humano para muito além das necessidades básicas! A diminuição da jornada de trabalho é uma das condições fundamentais para se alcançar o reino da liberdade. É preciso tempo livre, o tempo do ócio criativo, para que as potencialidades mais humanas possam florescer: o curtir músicas e tocar instrumentos; o aprender outras línguas; a leveza da dança; o deleite de compor e ler poesias; a arte da esgrima; a indagação filosófica; a leitura dos melhores livros; a escrita mais intensa, emocionada e sentida; o cuidado para com as relações e o cultivo das amizades; os encontros e as conversas mais gratuitas e interessantes. Quais as potencialidades e também os limites do humano?

A existência pode alcançar um sentido bem mais elevado, para além da mera luta cotidiana pela sobrevivência. Projetar um mundo, uma forma de organização social, na qual todos tenham vida em abundância é o desafio político mais urgente. O reino da liberdade é também o tempo do cultivo do ser. O interessante é que talvez tal perspectiva nem seja tão difícil assim de se construir, basta superar a lógica de opressão e exploração do trabalho alheio; romper com o processo de usurpação e concentração de riquezas e avançar para uma estrutura social fundada na ética da justiça e da equidade, promovendo a partilha de todos os bens produzidos, em uma relação de preservação e harmonia com a natureza.

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