21 de dezembro de 2024
ARTIGO

Educação sexual nas escolas

Por Cecílio Elias Netto |
| Tempo de leitura: 3 min

É-me incrível acompanhar esse debate a respeito do que chamam de “educação sexual” das crianças, especialmente em escolas. Desde a minha juventude – e lá se vão décadas – faz-se essa discussão. E esterilmente. A impressão que me fica é de ser, a sexualidade humana, maldição. E não é. Pois, na realidade, a preocupação – a de “poder fazer filhos” – nasce a partir do momento em que o ser humano afirma o direito da propriedade particular de terras e surge, então, o direito à herança.

O discurso histórico é fascinante. Mas, no século XXI, pode tornar-se apenas medíocre, além da perplexidade que leva ao medo e à insegurança. Vivemos uma era em que transferir responsabilidades tem sido a resposta para fugir a muitas decisões que pertencem a grupos sociais específicos. E, em especial, aos parentais que carregam culturas, tradições, heranças complexas. A lei, o direito normatizam a convivência sócio-político-econômica. No entanto, é impossível negar esteja na família os princípios básicos da educação. Daí, portanto – e trata-se apenas de opinião do escrevinhador – diferenciarmos o que seja o ensino em nível societário e a educação na dimensão familiar. A escola não pode educar no sentido universal da palavra. Educar é dirigir, direcionar. Se entregar-se ao estado essa responsabilidade, estaremos criando uma perigosíssima perspectiva ditatorial. Pois ficaríamos subordinados a valores dos governantes de cada momento.

Ora, como falar-se, então, em “educação sexual nas escolas”? Nestas, há que se ter o conhecimento da sexualidade humana, sua complexidade biológica, fisiológica. Mesmo assim, como fazê-lo? Uma “educação sexual” em nível coletivo – se isso realmente existir, se houvesse tal possibilidade – seria a absurda negação da singularidade humana em sua liberdade, vontade e responsabilidade.

É óbvio tratar-se, esta, opinião do escrevinhador. Sem, no entanto, grandes certezas. Nessa imensidão de dúvidas, não há como negar o crescente desrespeito à dignidade humana. Confirma-se – parece que cada vez mais claramente – o provérbio milenar: “homo homini lúpus” – o homem é o lobo do homem. Há como que um apenas oculto sentimento de escravidão. O uso do outro é uma crueldade suicida que se esconde até mesmo em leis que, sob a capa de justiça, asseguram privilégios milenares.

Como “educar” sexualmente pessoas? E qual a orientação extensiva a criaturas tão diferentes? Quantos anos de “educação” para expor o mistério do ser humano capaz, também sexualmente, de feitos que nem a razão explica? Falar-se-ia de uma ética sexual comum a todos? “Fazer amor” seria o mesmo que “fazer sexo”? No casamento, sexo é “dever” de um cônjuge para com o outro? Há obrigatoriedade? As aulas abordariam toda a sexualidade humana – que compreende o ser por completo – ou o simples genitalismo? Qual a explicação – para crianças e adolescentes – a respeito de homossexualismo, que eles sabem existir? Ensinariam, também, a abortar diante de gravidezes indesejáveis?

A questão é complexa demais. E desafiadora. Com questões – até aqui ainda discutíveis – exigindo reflexões e cuidados permanentes. Ora, como ignorar que estudos e pesquisas confirmam a cruel realidade de os abusos sexuais acontecerem principalmente nos próprios lares? Tal evidência haverá de levar-nos à conclusão de que “educação sexual”, no momento atual, terá que começar pelos adultos. Pois, muitas vezes, o nome da crueldade é ignorância.

Há solução? Não sei.

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