21 de dezembro de 2024
ARTIGO

Superabundância de informações

Por José Osmir Bertazzoni |
| Tempo de leitura: 3 min

Uma consequência danosa surge quando somos atingidos por milhares e milhares de informações. São danosas porque nem todas essas informações processadas por nosso cérebro são verdadeiras e quando são, podem também possuir propriedade de alienação, desvirtua a consciência da realidade e cria um mundo paralelo onde a única verdade é a que se processa em uma bolha limitada de análise crítica.

Diante de tantas novas tecnologias e diante de novos formatos de comunicação em massa, vivemos um momento ímpar desde a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg quem desenvolveu um complexo manual com estrutura mecânica de manipulação com tipos móveis dando início à Revolução da Imprensa, por esse motivo é considerado o invento mais importante do segundo milênio.

O tipo móvel teve papel fundamental no desenvolvimento da renascença, reforma e na revolução científica e lançou as bases materiais para a moderna economia baseada no conhecimento e na disseminação em massa da aprendizagem.

Hoje, com o desenvolvimento da comunicação digital e a plena liberdade de manipulação de dados e informações sem critérios éticos e sem objetivos definidos como interesse social ou coletivo, facilitou-se muito a disseminação das denominadas “fakes”, na maioria desses eventos.

No uso político, percebemos o abandono do escrúpulo, do bom senso e da ética, onde o “vale tudo” agride e desorienta pessoas, criando um estado de condicionamento intelectual com a formação de bolhas tribais, em especial, familiaridade com o ódio que se constitui essência multiplicadora desta concentração afetiva dos neurônios adoecidos.

A imprensa de Gutemberg proporcionava ampliar as fontes de informações e conhecimento dos que dela tomassem participação em compasso com a melhor característica do ser humano que é a inteligência e a plenitude intelectual, universalizou-se então o saber tornando-o mais acessível a todos, convertendo-se no maior avanço da humanidade em toda sua existência. Diferente desse conceito que perpetuou por mais de cinco séculos, convivemos com um novo formato cujo controle (que pese ser mais democrático), não se submete a regras éticas e a fiscalização rigorosa das normas antissociais, criando embaraços.

O modelo das plataformas digitais é efetivo e inteligente; despertam uma oportunidade para que as pessoas se manifestem sobre suas ideias, interesses e ideologias sem encontrar barreiras para a publicação. Portanto se verdadeiras ou falsas as informações publicadas são de cunho exclusivo dos interlocutores e, em caso de falsas as notícias a repercussão destas mentiras não possuem controle algum e pode contaminar uma pessoa e até todo um grupo social ou toda a sociedade.

Nascemos preparados para combater as inverdades, ocorre que são tão massificadas as notícias enganosas que acabam se constituindo em “meias-verdade”. Um batalhão de robôs é empregado para executar a tarefa de convencer as pessoas menos esclarecidas ou desatentas de temas políticos com repercussão social contrários aos princípios republicanos e a democracia.

Figuras de linguagem são usadas; colocam-se temas, frases, ideologias em palavras do cotidiano que são seculares, todos utilizados negativamente para marcar uma ou outra corrente política, em especial para denegrir imagens e projetos. O tema preferido sempre é esquerda ou direita, comunismo ou liberalismo, sem se atentarem nos conceitos históricos sobre essas correntes ideológicas existentes em todas as partes do mundo.

O Brasil é um país republicano com forte viés progressista, porém um falso conservadorismo tem aproveitado desse novo método de comunicação em massa, aproveitando também das deficiências de compreensão de grande parte da sociedade para se sustentar com discursos de ódio e ruptura do sistema democrático.

Um mundo em que não houvesse grande circulação de informações não seria um mundo livre. Mas, às vezes, essa abundância torna-se superabundância, a ponto de nos confundir, até nos esmagar. Lutamos para entender, para distinguir, para nos orientar.

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