25 de dezembro de 2024
ARTIGO

Generalização

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 3 min

Um erro comum quando uma pessoa vai morar fora do país é iniciar um processo que eu chamo de "generalização de nacionalidades".

Claro que, morando em nossos lares brasileiros, muitas vezes, generalizamos comportamentos e atitudes de pessoas que vivem em cidades vizinhas ou até mesmo bairros da nossa própria cidade.

É como se todos os moradores de uma determinada região, por exemplo, fossem de um mesmo padrão de comportamento, educação, estilo de vida, etc.

Morando fora e convivendo com pessoas de diversas nacionalidades, acaba ficando até bem  fácil generalizar o comportamento de pessoas de outros países.

O mesmo acontece com turistas. Ao visitar uma cidade fora do Brasil e ter uma impressão errada de uma parte da população que você acaba de conhecer – geralmente trabalhadores que atendem os movimentados centros turísticos daquele local ou moradores locais que estão cansados da agitação turística – acreditamos que todo o resto da população daquele país tem uma mesma atitude grosseira, por exemplo.

Quem nunca ouviu falar que os "franceses são todos estúpidos" ou que "os portugueses atendem mal os clientes". Tais frases, na maioria das vezes, foram usadas por turistas que visitaram os cartões postais de Paris e Lisboa e que usaram de suas más experiências para generalizar todos os habitantes de um mesmo país.

Quantas vezes já ouvi de quem foi visitar Roma que "nossa! Os italianos são todos estressados". Uma das cidades mais lotadas de turistas do mundo, que vive em alta frequência 24 horas por dia, recebendo pessoas do planeta inteiro... você esperava mais o que, meu anjo?

Será que os franceses de Toulouse são os mesmos que você conheceu na capital? Ou os portugueses de Coimbra vão seguir o mesmo comportamento da agitada Lisboa? Já experimentou trocar Roma por Bologna para ver se a simpatia italiana muda um pouco mais?

Além disso, existe a diferença cultural. Chegar abraçando um italiano ou um alemão não faz de você mais simpático. Muito pelo contrário! Se fizer isso, a pessoa rude estará sendo você.

Não precisa ir tão longe. Basta tentar abraçar um paulistano em plena avenida Paulista para ver se todo brasileiro tem a mesma "simpatia" que você acredita ser nosso mote. Ou visitar um agitado café de Copacabana sem ouvir um belo de um palavrão ao pedir uma coxinha.

Outra coisa que me incomoda muito é o desrespeito ao reparar no vestir, comer e nos hábitos de higiene de cada personalidade.

Há diversas nacionalidades que têm costumes culinários diferentes dos nossos, consumindo alimentos com temperos excêntricos e fortes. Muitas vezes, o odor dessas comidas permanece em suas vestimentas ou até mesmo saem pela sudorese. Mas é constrangedor demais tapar o nariz ou reclamar que alguém "está fedendo" ao seu lado só porque você não está acostumado com aquele odor.

Zombar dos tipos de roupas utilizados por culturas distintas também é deveras rude. Se você faz isso, provavelmente não deveria viver em uma cidade cosmopolita onde várias culturas se cruzam diariamente. Fique trancadinho na sua casa que é bem melhor.

O mesmo vale para questões de higiene, que não são menores ou piores que as suas, mas devem ser tratadas como diferentes e respeitadas. Se você toma banho todos os dias, parabéns! Se outras nacionalidades têm por tradição não fazer isso, não é da sua conta.

É claro que isso não significa que você deva aceitar tudo de uma pessoa estrangeira só porque ela tem um modo de viver diferente. Ninguém é obrigado a aceitar grosseria, abusos ou até mesmo assédio porque alguém tem outra mentalidade.

O que não se pode fazer é partir do princípio de que se uma pessoa agiu de certa forma com você, todo o resto de uma nacionalidade leva a culpa por ser igual.

Se fosse assim, nós, brasileiros, seríamos todos corruptos, sacanas, enganadores, sexualmente depravados, que são alguns dos preceitos escrotos que mais escuto os gringos aqui de fora falar de nós como nação. Você se considera dentro deste padrão? Pois é, nem eu!

Ninguém quer ser colocado em uma caixinha padrão de comportamento por causa de sua nacionalidade. Então não coloque também!

--------------

Os artigos publicados no Jornal de Piracicaba não refletem, necessariamente, a opinião do veículo. Os textos são de responsabilidade de seus respectivos autores.