25 de dezembro de 2024
ARTIGO

Ainda sobre os Voluntários Paulistas do Sétimo

Por Armando Alexandre dos Santos |
| Tempo de leitura: 4 min

Concluamos hoje a série de artigos sobre os voluntários paulistas da Guerra do Paraguai, que constituíram o 7º. Corpo de Voluntários da Pátria e foram estudados na obra clássica “Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai”, do Gen. Paulo de Queiroz Duarte, assim como no já citado trabalho do Ten.-Cel. Pedro Dias de Campos, intitulado “O espírito militar paulista” (Revista do IHGSP, vol. XXII, 1923). Mais recentemente, publicou também um excelente apanhado sobre o 7º. CVP o erudito Cel. Carlos Roberto Carvalho Daróz, intitulado “O 7º. Corpo de Voluntários da Pátria: de São Paulo ao Paraguai” (Revista A Defesa Nacional, Rio, set/dez 2017, p. 72-83).

Durante sua formação, os 759 homens que compunham o efetivo do 7º. se aquartelaram nos arredores da Capital da Província, no atual bairro do Ipiranga. A 1º de agosto de 1865 embarcaram com destino ao Sul. Na capital da Província do Rio Grande permaneceram perto de dois meses, recebendo instrução e treinamento. Um oficial e 33 praças ali morreram, antes de entrarem em operações, devido a uma epidemia de varíola. A 7 de outubro o 7º. embarcou para Corrientes, onde se juntou com o 42º., também constituído por paulistas. Ali foram passados em revista pelo General Osório, “o Centauro dos Pampas”, que deles afirmou uma frase que motivou extraordinariamente seu moral: “Esses são soldados! E devem sê-lo, pois os paulistas, seus antepassados, foram bravos, como certifica a história”.

A 10 de abril de 1866 o 7º CVP recebeu a missão de tomar, de ocupar e manter a Ilha do Ataio - que era um ponto estratégico importante, fortemente defendido pelos paraguaios. Os nossos desembarcaram em chatas, durante a noite, e montaram rapidamente um sistema de trincheiras, com 6 peças de bateria, diante da fortaleza paraguaia de Itapiru. Foi um desafio que custou caro, pois os paraguaios, durante quatro dias bombardearam incessantemente nosso entrincheiramento. Depois, investiram sobre os brasileiros, com 1200 homens bem armados e divididos em três batalhões. Os nossos resistiram até os últimos cartuchos e, faltando munição, lançaram-se sobre os paraguaios à baioneta, tendo à frente o Comandante Pinto Pacca. Morreram 153 paulistas do 7º. Ficaram estendidos no solo mais de 600 paraguaios.

Na batalha de Tuiuti, a 24 de maio de 1866, o 7º. CVP "bateu-se por longo espaço de tempo com uma força de infantaria superior em número, com a cavalaria e foguetes a congreve, tendo fora de combate seis oficiais e cento e dezenove praças. A bandeira, findo o combate, apresentava três orifícios produzidos por balas." (Duarte, op. cit.)

Até o fim do conflito, o 7º CVP portou-se com brio e galhardia. Depois de Tuiuti, seus principais combates foram, ainda em 1866, os de Punta Nãró (16 e 17 de julho), Isla Carapá (18 de julho, ocasião em que morreram 40 homens do 7º.CVP) e Tujucué (a 20 de setembro). Em 1868, o combate de Estabelecimento (19 de fevereiro), Perecué/Assunção (8 de agosto), Villeta (13 de dezembro) e Angustura (30 de dezembro). Em 1869, o combate de Tupiram (30 de maio) e, depois de agosto, a campanha das Cordilheiras.

O 7º CVP permaneceu no Paraguai, em luta, até março de 1870, quando, após quase 5 anos de campanha, retornou ao Brasil. A chegada em São Pulo, no dia 25 de abril, foi gloriosa: "A população de São Paulo recebeu cheia de jubilo e entusiasmo os valentes chegados do 7º de Voluntários naquele dia" (idem)

O 7º partira para a guerra com cerca de 800 homens. Retornava com 350, sendo que apenas 84 dele faziam parte desde o início do conflito. Durante as operações, muitas reposições haviam sido feitas, para suprir os que caíam. Cerca de 6 mil homens, que haviam integrado o 7º. em alguma fase de sua atuação tombaram na guerra.

Após o combate da Ilha do Ataio, em que se portou com extrema bravura, o 7º CVP foi condecorado pelo Governo Imperial com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Essa insígnia foi depois destinada ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, oferecida pelos heroicos combatentes paulistas. A Virgem da Conceição, Padroeira do Exército brasileiro, era também venerada de modo especial pelos paulistas do 7º., que tinham mandado bordar sua efígie na sua bandeira, a qual se encontra atualmente no Museu de Arte Sacra da Capital paulista.

O “Almanak de Piracicaba” de 1900 registra os nomes de cinco voluntários piracicabanos: Vieira, Belisário, João Julião, Joaquim Antonio Matoso e Fortunato de Campos Freire. No 7º. CVP, Vieira foi capitão e Campos Freire foi major. Houve, com toda a probabilidade, muitos outros voluntários piracicabanos, mas somente esses cinco deixaram seu nome escrito em letras de forma e foram homenageados com a designação da rua Voluntários de Piracicaba.

Por fim, registre-se que em 1865 o Padre Joaquim Cipriano de Camargo, que foi vigário da atual paróquia da Sé de Piracicaba no período 1859-1868 escreveu ao Presidente da Província, oferecendo-se como voluntário para acompanhar o batalhão piracicabano “nessa luta em que estavam empenhadas a dignidade e a honra do Brasil e prestar à causa nacional todos os serviços compatíveis com o estado sacerdotal.” (cfr. Maria Celestina Teixeira Mendes Torres. “Piracicaba no século XIX”, ed. do IHGP, 2009, p. 61). Ao que parece, o oferecimento não chegou a se concretizar. Mas valeu a intenção.

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