21 de novembro de 2024
ARTIGO

Fidelidade ao Movimento de Jesus

Por Prof. Adelino Francisco de Oliveira |
| Tempo de leitura: 3 min

É preciso voltar às fontes e reaprender o cristianismo diretamente com o Movimento de Jesus. Voltar às fontes significa revisitar os Evangelhos, contemplando, sobretudo, as parábolas, que remetem às palavras proferidas pelo próprio Cristo. Essa dinâmica de reaproximação e compreensão mais profunda dos ensinamentos de Jesus configura-se como o único caminho para se restaurar a dignidade, a beleza e a essencialidade da mensagem cristã.

A crise que o cristianismo enfrenta no contemporâneo talvez tenha como origem o desconhecimento dos cristãos de hoje em relação à mensagem de Jesus. É possível ser cristão e ignorar, tão profundamente, às verdades éticas ensinadas pelo próprio Cristo? No geral, o que se tem hoje é a oferta de um cristianismo estruturado a partir de concepções vazias, teologicamente insustentáveis e muito superficiais acerca dos ensinamentos de Jesus. Oferta porque o cristianismo também tem sido reduzido a um bom negócio. Um cristianismo descolado dos Evangelhos.

Há três hipóteses fundamentais que talvez expliquem os motivos de emergir na atualidade um cristianismo tão empobrecido e rebaixado, ao menos do ponto de vista teológico. As hipóteses são mais provocações para o pensamento crítico, uma mera chamada de atenção para um mundo cheio de equívocos, mas que, apesar de tudo, tem sede de espiritualidade e precisa se reencontrar com a Verdade mais profunda da ética do Movimento de Jesus.

A primeira explicação para esse cristianismo tão contraditório e até mesmo avesso aos ensinamentos de Jesus pode ser dada pelo caráter mais geral da cultura contemporânea, marcada por uma busca pelo que é mais imediato, efêmero e supérfluo. Há um ambiente cultural que não demonstra valor pelo que é profundo, denso, espiritual, verdadeiro. As pessoas se movem por jargões e frases de efeito, buscando respostas rápidas e práticas para suas existências vazias. Há um nítido desinteresse pela verdade das coisas.

Outra hipótese, que se desdobra da primeira, é que a humanidade tem regredido do ponto de vista da busca pelo conhecimento. Há uma preguiça intelectual. É um mundo que se contenta com aquilo que é raso e superficial. Por mais estranho que parece, há um certo culto e até orgulho da ignorância. As ideias mais toscas e simplistas voltaram a ter algum lugar, como o negacionismo científico, a defesa da terra plana e a visão tomada por toda sorte de preconceitos.

A terceira hipótese, de caráter mais político, é que essa decadência porque passa o cristianismo seria decorrente de ações orquestradas, planejadas por grupos conservadores e de poder, para justamente conter e esvaziar a força transformadora e até revolucionária da mensagem de Jesus. Em um processo de manipulação, o cristianismo estaria sendo desconstruído por dentro, no interior das próprias igrejas, em uma tentativa de domesticar e atenuar a profundidade e impacto de suas concepções teológicas no campo social e político.

O caminho para o cristianismo é voltar às suas fontes mais genuínas, contemplando o próprio Movimento de Jesus. O cristianismo é portador de uma ética profunda e humanizadora, que se revela imprescindível para se compreender a vida e suas possibilidades. Essa ética cristã não pode ser obliterada, escondida ou apequenada. Sua força encontra-se na verdade daquilo que ensina: a utopia de uma outra sociabilidade, alicerçada no amor ao próximo, na solidariedade, na comunhão fraterna, no compartilhamento radical de todos os bens. O contemporâneo pede dos cristãos autênticos a coragem profética, na redescoberta e fidelidade ao Movimento de Jesus.

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