Artigo interessante sobre a sexualidade de clientes e profissionais da saúde. A abordagem é de uma das minhas mestras na pós-graduação em sexualidade, Dra. Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do Projeto Sexualidade (ProSex) – fonte Revista Viver Psicologia. Acompanhem:
“Disfunção erétil nos homens e falta de desejo na mulher são as principais queixas que chegam aos nossos consultórios. Do outro lado do balcão, a questão continua: nem todo profissional aprendeu a lidar bem com a própria sexualidade.
É importante que o profissional que lida com questões de sexualidade esteja ‘bem sexualmente’. Fizemos uma pesquisa sobre isso, inclusive, entrevistando 5 mil ginecologistas do país. Os resultados mostraram que o profissional que se sente seguro pesquisa duas vezes mais os problemas sexuais de suas pacientes. Menos da metade, ou 44,4%, investiga regularmente a saúde sexual das mulheres que passam por seu consultório. Cerca de 49% sente-se inseguro para fazer essa investigação. Mas, em 89% das mulheres que procuram o médico aparece esse tipo de queixa. As principais são falta de desejo (30%) e falta de desejo aliada a dor durante a relação sexual (12,9%). Queixam-se apenas de dor nas relações sexuais 10,4% delas, e de anorgasmia (falta de prazer na relação sexual), 8,9% delas. Na população geral, uma pesquisa nacional sobre a sexualidade, realizada com 3 mil indivíduos, revelou que metade das brasileiras tem alguma queixa de ordem sexual: 35% das mulheres tem falta de desejo; 30% tem falta de orgasmo; 20%, dor durante a relação sexual. Entre os homens, 46% sofrem com a disfunção erétil em algum nível, ou seja, completa, moderada ou leve, A disfunção erétil é considerada moderada quando há alguma dificuldade em obter ou em manter a ereção. Este caso é o da maioria, ou 31,5% dos queixosos, A forma mais branda do problema, ou disfunção erétil leve, ocorre em 12% dos entrevistados, e apenas 25% apresentam disfunção erétil completa, A segunda principal queixa é de ejaculação precoce (17%).
Se o profissional não tiver sua sexualidade ‘bem resolvida’, as dificuldades no atendimento de fato tendem a aparecer. Mas, muitas vezes, exatamente porque isso ocorre, o profissional vai procurar um curso ou estágio para resolver essa dificuldade. Nesse caso, o contato com a problemática do outro leva o profissional a buscar ajuda para o que possa estar acontecendo com ele. Isso acaba sendo uma decorrência. Por outro lado, um profissional de saúde ou educador com a própria sexualidade mal resolvida não consegue nem lidar bem com os problemas de quem ele atende nem transmitir o conhecimento necessário adequadamente. Como o profissional ginecologista vai lidar bem com a dificuldade de ereção do marido de sua cliente se ele próprio estiver passando por esse problema?
As transferências e identificações, nesse caso, são praticamente inevitáveis. Por outro lado, quem sofre ou já sofreu com a dificuldade e conseguiu procurar ajuda pode se beneficiar com a experiência e olhar situação com maior empatia.
Uma característica importante do atendimento em sexualidade é a interdisciplinaridade e, para isso, o profissional precisa saber muito bem o que lhe compete e qual é a interface de sua atuação com a de outros profissionais”.
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