Lembro-me da primeira vez que fui a um rodeio quando tinha uns dez anos. Acompanhei minha irmã (que vai me matar depois da publicação deste artigo), fanática pela dupla Zezé Di Camargo & Luciano.
Chegamos cedo, afinal ela queria ficar muito perto do palco com o intuito de arremessar um ursinho de pelúcia ao pequeno Zezé.
O fato é que, quando chegamos, encontramos uma arquibancada praticamente vazia. Naquele momento já havia começado as provas com animais e o show ainda demoraria algumas dezenas de minutos, para o nosso pavor.
Meu coração gelou ao ver um cavaleiro todo montado, com seu “uniforme” de peão, tentando laçar um bezerro indefeso. Ao conseguir seu objetivo, derrubava o bicho no chão, torcendo seu pescoço em quase 90 graus, com uma violência absurda.
Alguns poucos trogloditas sádicos que acompanhavam aquela cena horrorosa aplaudiam veementemente aquele herói covarde.
Em outra cena, depois de correr desesperadamente, um boizinho era puxado pelo rabo por um peão, afim de domá-lo. Não demorou muito para que outros peões entrassem na arena sobre grandes bois, que pulavam em desespero sem fim enquanto eles tentavam não cair.
Apenas depois de todo aquele (freak) show animal terminar, os jovens, casais e famílias, que até então aproveitavam a praça de alimentação ou paqueravam na área fora da arena, entravam para conseguir um lugar para ver a dupla.
Vamos aos fatos. Pela minha experiência (traumática) e de todos que ainda vão ao rodeio, o objetivo não é ver os animais, mas sim os shows. A prova disso é a própria organização do evento. Ontem, começou mais uma edição a 24ª Festa do Peão de Boiadeiro de Piracicaba.
São diversas atrações sertanejas e um DJ. Basta entrar no site e perceber que só há informações artísticas e nada de competição animal. Mas elas acontecem. E além de acontecerem, maltratam os bichos, sim.
Apesar de uma decisão do STF considerar vaquejada inconstitucional por envolver maus-tratos a animais, em 2016 foi sancionada uma lei que considera vaquejada patrimônio cultural do Brasil junto com o rodeio, com a justificativa de uma “movimentação da Economia”.
Os organizadores podem falar o que quiser, mas só o fato de animais estarem presos em um ambiente destes já é uma forma de maltratar. Além disso, para o boi pular enquanto um homem está em cima dele precisa haver algum tipo de “incentivo”. E não são cócegas.
Não acredito ser “hipersensível”, mas me choco com a violência, seja ela de qualquer espécie, e sei que as pessoas ainda conseguem se chocar.
Portanto, o apelo vai para quem gosta do tipo de música que rola nos rodeios: exija que o evento seja um festival de música, mas sem a participação dos animais. É um absurdo isso ainda acontecer.
Ninguém é contra a música sertaneja, mas contra o uso de animais como entretenimento doentio de poucos humanos. Financiar este tipo de evento é concordar com tais práticas.
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