21 de dezembro de 2024
ARTIGO

Sobre escolas. Notável exemplo.

Por David Chagas |
| Tempo de leitura: 5 min

Convite para falar com professores e pais me permite escrever uma vez mais sobre assunto que vem ocupando noticiários e políticos.

Reunião com o Presidente da República e importantes membros de seu gabinete, com presença de outras tantas autoridades de distintos governos, obrigou-me a cuidadosa observação de falas, argumentos, informações. Faltou, a meu ver, presença de professores que tenham atuado, estejam atuando ou tenham, da Educação, conhecimento prático da relação professor/pais/alunos. Estar à frente de escola não é para qualquer um. A presença de pais, sobretudo as que tenham clientela vulnerável, é fundamental.

Aprendi com o poeta e repito o aprendido, num momento em que as escolas assistem, passivas, ao ajuntamento de autoridades que pouco ou nada sabem disso, mas decidem, em busca de caminhos que as livrem do mal.

Fossem humildes e sábios, já que têm o poder de decidir, talvez chamassem para junto deles, poucos que ainda restam e pensam a Educação, com a grafia usada aqui.

À Escola, hoje, falta o essencial para fazer dela, não só fonte de conhecimento, mas lugar onde experiências vividas, instrução, vivência e sentido de vida sejam essenciais. Transmitir isto é para quem sabe de filosofias que norteiem estes caminhos e aclarem a caminhada.

“Bem sei que, muitas vezes,/

o único remédio / é adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem, / a dívida, o divertimento,

o pedido de emprego, / ou a própria alegria./

A esperança é também uma forma / de contínuo adiamento./

Sei que é preciso prestigiar a esperança, / numa sala de espera. / Mas sei também que espera significa luta e não, apenas, / esperança sentada. / Não abdicação diante da vida. / A esperança / nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila / da espera./ Nunca é a figura de mulher do quadro / antigo. / Sentada, dando milho aos pombos.”

Como sabem os poetas!  Ter-me-ão entendido os senhores em reunião de Conselho. Terão percebido, no cantar do poeta, as vestes que cobrem os seus versos?

Triste, onde pouco se lê, supor não terem conseguido que muito do que foi versejado pode fazer entender e revestir a vida, senão com certeza, de esperança.

Bem, aqui, o que me interessa agora, no espaço que tenho, é provar que houve – e não faz muito – numa cidade como a minha, ao tempo em que vibrava pela cultura, uma escola pública exemplar, cujos alunos alcançaram conhecimento e postura cidadã que lhes abriram portas de universidades, sem cursinhos, notáveis postos públicos e, dos anos ali vividos, lembrança que, maduros, revisitam neste abril iluminado por encontro que surgiu pequeno e acabou por transformar-se em evento de repercussão, onde não caberão todos que desejavam participar para imprescindível louvação.

Chegará ao Secretário Estadual de Educação, ao Ministro de Estado e a outras tantas destas pessoas que têm poder para decidir o eco de cada palavra minha, diante do impasse em que se encontram à procura do rumo a ser tomado?

“A esfera / em torno de si mesma / me ensina a espera / a espera me ensina / a esperança / a esperança me ensina / uma nova espera / a nova espera me ensina / de novo a esperança / na esfera.

A esfera / em torno de si mesma / me ensina a espera /a espera me ensina / a esperança / a esperança me ensina / uma nova espera a nova / espera me ensina / uma nova esperança / na esfera /

A esfera / em torno de si mesma / me ensina a espera / a espera me ensina / a esperança / a esperança me ensina / uma nova espera / a nova espera me ensina / uma nova esperança / na esfera”

Quero, tão somente, de Deus, por Seu Espírito, Pai e Filho reunidos, Luz. Bem-vinda e benfazeja Luz me permitirá louvar a Escola Estadual “Professor João Batista Leme” hoje, na espera, da nova esperança, escola que foi, de sua criação até onde chegou em anos de ouro, cenário de feitos notáveis, revisitados hoje na lembrança de centenas de alunos. Tudo conquistado graças à comunhão de pais com sua direção e seus professores, pelos seus alunos.

Como pôde? Fácil. Havia nela quem soubesse cuidar dela e dos seus com liderança digna, com respeito, com equipe bem formada e desejo de acertar, só acertar.

Therezinha de Jesus Pimentel Vianna. Zuza. Tão-somente ela. Não havia nenhuma assessoria a não ser os que, com ela, compunham esta comunidade de amor e de vontade.

Dizer o quê? Fazer que tipo de canto a tão ilustre figura? Que possível louvação cabe? Posso, bem sei, não dizer nada que entenderá tudo já que, há anos, com gratidão sem fim, celebro com amizade e respeito ter estado a seu lado.

Abril de 2023, aberto em rosas, na transparência da luz que o outono traz para encerrar a contagem de seus dias, juntou centenas de alunos em torno de seu nome, por iniciativa deles, para celebrar mais de nove décadas de vida, que permanece, pela graça de Deus, inteiramente igual à grande senhora daqueles dias. Com ela estarão seus professores fazendo coro aos alunos em espelho da fraternal convivência entre todos, naquela Escola bendita.

No próximo dia 29, numa prova inequívoca de que Escola que sabe Ser não se perde da lembrança, em organização primorosa, homenagem que, espero, reflita sobre o Estado, provando que há caminhos a serem seguidos.

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