21 de novembro de 2024
ARTIGO

Psicologia é ciência?

Por Luiz Xavier |
| Tempo de leitura: 3 min

Hoje abordamos um tema curioso e, para alguns, controverso: a Psicologia é uma Ciência? Convidei a psicóloga clínica e do trabalho, Kátia Mestriner, para elucidar este tema referente à nossa profissão.

“Este tema é um terreno fértil para confusões e “achismos”, especialmente na internet. Afinal de contas, psicologia é ciência? A resposta é sim.

Como toda boa ciência, a psicologia deve se prestar a previsão e generalização e por ser tão difícil aplicar estes conceitos ao ser humano, a Psicologia nasce buscando sua aceitação e por isto pretendeu estudar aquilo que é supostamente mais fácil de atender a estes requisitos.

Ela nasce oficialmente com o surgimento de um laboratório de psicologia experimental, na Alemanha em 1879. A ciência de então preconizava a necessidade de repetição dos experimentos para sua validação. Daí uma grande dificuldade: como realizar experimentos com seres humanos?

A psicologia foi ampliando seus objetos de estudo e a ciência foi se redefinindo e atendendo a demandas das ciências humanas e não apenas das biológicas e exatas. Nesta ampliação dos objetos de estudo, além de buscar compreender e explicar a vida humana do nascimento até a morte, a psicologia abarcou temas específicos como sexualidade humana, psicologia do trabalho, psicologia organizacional, psicologia da educação, psicologia do luto e outros temas que permeiam a vida humana do início ao fim. A ampliação de possibilidades de atuação dos psicólogos se multiplicou assim como o prestígio da profissão, regulamentada no Brasil há sessenta anos e sendo hoje uma das profissões mais buscadas nos vestibulares. Isso significa que existe um corpo de saberes e técnicas reconhecidas e que quando alguém precisa de apoio psicológico deve buscar um profissional, tanto quanto deve procurar um dentista em caso de dor de dente.

Com tudo isso, sabemos que a psicologia de hoje foi capaz de construir teorias capazes de compreender e explicar o comportamento humano, seus pensamentos e sentimentos. E felizmente o senso comum bebeu da fonte do saber científico, como aliás deve acontecer com todos os saberes; eles devem estar a serviço da humanidade para a construção de um mundo melhor. Um exemplo disso é o conceito que hoje temos de infância como fase da vida que merece cuidados especiais, por se tratar de um momento de desenvolvimento em todos os aspectos, inclusive o emocional. Na idade média por exemplo, este conceito não existia e as crianças eram tidas como “miniadultos”, expostas a todo o tipo de tema e de riscos.

Outro conceito recente na história da humanidade é o de adolescência, hoje vista como transição capaz de trazer angústias e questionamentos. Estes são exemplos de como as pessoas são influenciadas por conceitos científicos sem sequer se darem conta disso.

Não podemos, porém, deixar de reconhecer os limites da ciência, que não deve ser tida como sinônimo de verdade, mas deve ser compreendida como uma das tentativas válidas de abordar um fenômeno. Não devemos deixar de valorizar as artes e a Filosofia como formas de abordar o fenômeno humano, assim como reconhecer que nenhuma ciência é completa, podendo ainda oferecer o risco da especialização, que é conhecer mais de cada vez menos, o que pode desfavorecer o conhecimento de um fenômeno por completo. Daí a grande importância da Sociologia, da Antropologia e de tantas outras ciências que podem contribuir com a humanidade”.

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