06 de dezembro de 2025
PERSONA

‘Busco sempre a musicalidade das palavras ao usá-las em meus textos’

Por Fernanda Rizzi | fernanda.rizzi@jpjornal.com.br
| Tempo de leitura: 7 min
Alessandro Maschio/JP

Eliete de Fátima Guarnieri se apaixonou pela literatura ainda quando começou  aler e a escrever contos durante a adolescência. Com uma longa trajetória no mundo da escrita com aprendizados, grandes professores, concursos e prêmios, seu mais novo projeto é o livro de contos e minicontos ‘Quando o estômago grita’, que será lançado nesta terça- -feira (21), na Galeria Florença. A obra apresenta um desconforto estomacal, simbolizando o sentimento humano de tristeza, felicidade, paixão, desejo, saudade e alegria.

Piracicabana, se formou em Direito pela USP (Universidade de São Paulo), e atua na área há 22 anos. Desde dezembro de 2007, ocupa o cargo de juíza titular da 3ª Vara Cível da Comarca de Santa Bárbara d´Oeste, e também já atuou como juíza substituta da Comarca de Rio Claro, juíza de direito do Foro Distrital de Itirapina e juíza auxiliar da Comarca de Campinas.

Além da literatura, o amor pela música também mora dentro de seu coração. Estudou piano na Empem (Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle) e, atualmente, participa de audições e saraus em sua casa e, também, estuda o órgão de tubos, que, para ela, é como se comunicar com Deus. Eliete é filha do empresário Antonio Sérgio Guarnieri e de Lourdes Alves Guarnieri. É casada com o advogado Marcos Roberto Gregorio e mãe de Isabella Guarnieri Gregorio. Nesta conversa com o Jornal de Piracicaba, ela conta sobre suas paixões, como foi a experiência de escrever seu o seu primeiro livro, o apego em relação a família, e, claro, quem é a Eliete mulher, profissional, mãe e esposa.

Como surgiu a ideia de escrever o livro?
É sua primeira publicação? Me apaixonei pela literatura quando aprendi a ler e comecei a escrever contos na adolescência, quando também participei de oficinas literárias, em Piracicaba, com os escritores Ignácio de Loyola Brandão e Márcia Denser. Em 1992, escrevi um conto para um livro organizado pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, intitulado “Mistérios do Engenho”. A oficina literária era realizada em um prédio do complexo do Engenho Central de Piracicaba, local que inspirou o título do livro. Ainda adolescente, escrevi uma novela infanto-juvenil, nunca publicada. Na infância e na adolescência, também me dediquei ao estudo do piano clássico.  Embora tenha escrito muito na adolescência e durante o período em que frequentei a universidade, depois de ingressar na carreira da magistratura, em 29 de setembro de 2000, acabei reduzindo a produção literária para me dedicar ao trabalho. Após o nascimento de minha filha Isabella, em 21 de outubro de 2006, a escrita literária tornou-se ainda mais restrita, pois priorizei a maternidade e o trabalho. Porém mantive o desejo de, algum dia, publicar uma obra literária. Em março de 2020, em razão da pandemia de Covid-19, passei a trabalhar de forma remota e a ter mais tempo livre durante o isolamento domiciliar. E comecei a participar do Clube de Leitura da Apamagis (Associação Paulista de Magistrados), o que me levou a voltar a ler obras literárias com maior frequência e a escrever contos. Em 2020, inscrevi-me para o concurso literário “Prêmio Apamagis de Literatura para Magistrados” e, como resultado, meu conto “Cacofagia” foi indicado para publicação, o que foi um incentivo para que eu continuasse a escrever. Esse conto foi publicado no livro “Direito e Literatura – Justiça Paulista”, em 2021. Em 2022 resolvi materializar em um livro alguns de meus textos escritos entre 1992 e 2022.

O nome da publicação “Quando o estômago grita” é forte e emblemático. Como se deu a escolha do nome do livro?
O título foi escolhido por ser o liame entre os contos nos quais sempre há o gritar do estômago, um desconforto estomacal como somatização de um sentimento humano (tristeza, desejo, alegria, paixão, saudade).

A literatura (poemas e contos) sempre esteve presente na sua vida?
Conforme relatado, passei a ler obras literárias assim que aprendi a ler e, aos dezesseis anos, já havia lido grande parte dos clássicos da literatura universal e dos livros de Machado de Assis, meu escritor preferido.

Como é sua ligação com as “palavras”? O que elas representam na sua vida?
Sou apaixonada pelas palavras e amo estudar gramática e línguas estrangeiras (francês e italiano). Além dos significados, busco sempre a musicalidade das palavras ao usá-las em meus textos. Meu conto “Acaso do Ocaso”, que também está no livro, foi elaborado como forma de criar um jogo entre as palavras acaso e ocaso, com prosódia parecida e semântica tão distinta.

Quantos contos compõem o seu livro?
O livro possui 13 contos – entre eles minicontos - escolhidos cuidadosamente para provocar no leitor sentimentos e sensações que façam seu estômago gritar.

Quem escreveu o prefácio?
O prefácio foi escrito pelo Professor Doutor Valter Nilton Felix. "Graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo, Valter Nilton Felix é mestre e doutor em Clínica Cirúrgica pela Universidade de São Paulo. É Professor Livre Docente da Universidade de São Paulo, título alcançado em 1994. Tem vasta experiência na área de Medicina, com ênfase em Cirurgia Geral e Gastroenterológica, atuando principalmente no tratamento de disfagia, refluxo gastroesofágico e videocirurgia. Graduado também em Direito, aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil - SP, tem atuado principalmente em defesa de profissionais da saúde envolvidos em lides judiciais. As publicações também nessa área têm sido fartas".

A orelha do livro foi escrita pelo consagrado a talentoso escritor Mafra Carbonieri, membro da Academia Paulista de Letras.

Quem é Eliete de Fátima Guarnieri? Fale-me da mulher, da profissional, da artista (musicista), esposa e mãe.
Sou filha de Antonio Sérgio Guarnieri e Lourdes Alves Guarnieri, casada com Marcos Roberto Gregorio, advogado, e mãe de Isabella Guarnieri Gregorio. Sou juíza de direito há 22 anos e, desde dezembro de 2007, ocupo o cargo de juíza titular da 3ª Vara Cível da Comarca de Santa Bárbara d´Oeste. Antes ocupei os cargos de Juíza Substituta da Comarca de Rio Claro, de Juíza de Direito do Foro Distrital de Itirapina e de Juíza Auxiliar da Comarca de Campinas. Frequentei o ensino fundamental na E.E.P.G. Mirandolina de Almeida Canto, de 1981 a 1988, e o ensino médio na E.E.P.S.G Professor José de Mello Moraes, de 1989 a 1991. Iniciei o estudo de piano aos 9 anos e, em 1992, concluí o ensino técnico em música na Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernest Mahle. Graduei-me na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em 1998. Após aprovação em concurso público, ocupei o cargo de Auxiliar Administrativo na Câmara Municipal de São Paulo, no período de julho de 1996 a julho de 1998. Casei-me com Marcos em 13 de setembro de 2002, após sete anos de namoro.

Qual sua relação com a família?
Sou muito apegada à minha família e sempre priorizei a vida familiar tanto que, na carreira da Magistratura, sempre procurei me promover para cidades próximas a Piracicaba, para não me distanciar de meus familiares.

O que a Piracicaba representa para a sua vida?
Sou piracicabana e amo Piracicaba. Morei em São Paulo de 1994 a 1998, período em que frequentei a faculdade de direito. Mas fiz questão de voltar para Piracicaba, cidade que considero a melhor para se viver por possuir ótima qualidade de vida.

Como você se define usando uma só palavra?
Sou perfeccionista.

Qual a parte mais fácil e difícil da escrita para você?
A parte mais fácil é escrever quando surge a inspiração, seja no meio da noite, no início da manhã ou no final da tarde. A mais difícil é ter que escrever sobre um tema que não domino e para uma data determinada, por exemplo, escrever um artigo para uma revista. Gosto de escrever quando meu estômago grita de inspiração.

Há novos projetos em mente? Quais?
Pretendo escrever um novo livro de contos.

Além de escritora, você também é pianista formada pela Empem. Como é a sua relação com a música atualmente?
Depois de me formar na Empem, fiquei muitos anos afastada do piano, durante o período em que cursei a Universidade de São Paulo e nos primeiros anos da carreira da magistratura. Retomei o estudo do piano há dez anos e, desde então, tenho participado de audições coordenadas pela Professora Cecília Bellato e feito saraus anuais em minha casa, à moda antiga. Comecei a estudar órgão de tubos com o Professor Júlio Amstalden, em março de 2018, mas precisei parar por ausência de tempo para me dedicar ao instrumento com regularidade; pretendo retomar os estudos neste ano. Sou organista da Catedral Santo Antônio de Piracicaba e toco no quarto domingo do mês na missa das 10h30, o que me traz imensa felicidade pois tocar um órgão de tubos é dialogar com Deus.