21 de novembro de 2024
ARTIGO

Sexualidade e moda

Por Luiz Xavier |
| Tempo de leitura: 3 min

Reflexão do psicólogo Otávio D' Elia. Acompanhem!

“As manifestações artísticas, cm suas mais variadas formas, representam valiosas fontes de informação e conhecimento, podendo proporcionar novas leituras de fatos estudados através de métodos científicos ou, ao menos, enriquecer tais estudos de maneira criativa.

Assim, entendemos que a arte. além de possibilitar experiências de caráter propriamente estético, pode, também, constituir-se em um meio válido e eficaz de aquisição de conhecimento. Nesse sentido, as manifestações artísticas, como produtos da ação humana, muito têm a contar sobre as pessoas e o mundo em que foram engendradas.

E a partir desta perspectiva sugerimos uma reflexão sobre a moda e as tendências de incorporação de elementos fetichistas na vestimenta. Vale ressaltar que, embora, possa ser controvertida a designação de moda como manifestação artística, alguns autores.

É inegável que a moda representa uma forma genuína de expressão humana que vem ganhando autonomia e importância nas últimas décadas. Folheando ao acaso qualquer revista de moda, certamente iremos nos deparar com ítens do vestuário próprios à parafernália fetichista: mulheres com colares sugerindo coleiras, roupas de couro vermelhas e negras (cores prediletas aos adeptos das práticas fetichistas), emborrachados aderentes, ‘sapatos cruéis’ de saltos extremamente finos e longos, botas, espartilhos, roupas íntimas, etc.

Não estamos diante de publicações eróticas ou pornográficas nas quais tais itens são abundantes e cuja presença tornou obrigatória para atender a demanda das fantasias de seus leitores. Estamos nos referindo às tradicionais publicações de moda, às reportagens sobre coleções, destiles e lojas, onde a presença dos adereços tradicionalmente fetichistas tem sido bastante frequente.

Sabemos que qualquer loja de artigos sexuais oferece a seus clientes várias roupas, calçados e adereços ‘fetichizados’, ou seja, artigos que parecem atrair os seus usuários pela possibilidade de evocar as mais diversas fantasias: sapatos de saltos finos e resistentes para ‘pisotear’ os ‘escravos’, roupas couro justas para configurar o ‘carrasco’, uniforme de empregada francesa para vestir a ‘submissa.

Contudo, os artigos que povoam o imaginário fetichista foram sendo incorporados à moda, de forma a se tornarem parte da indumentária das pessoas. A sua aquisição transformou-se cm uma operação simples, não se fazendo mais apenas nas lojas especializadas. Na verdade, nas últimas décadas, tornou-se mais clara a intersecção entre moda e fetichismo.

A tendência à incorporação de elementos fetichistas permaneceu. Passamos a utilizá-los em nossa indumentária com bastante frequência sem, talvez, nos darmos conta. Botas vermelhas, saltos finos e longos, roupas de couro e de borracha são reiteradamente encontrados estampados nas revistas ou nas pessoas com as quais cruzamos diariamente.

O que estará acontecendo? Expressão dos desejos dos criadores de moda, resposta às demandas coletivas de mercado ou de grupos, o uso dos artigos fetichistas na vestimenta é um fato que não pode passar despercebido. Com efeito, qualquer profissional que se ocupe com a sexualidade humana não pode deixar de estar atento às diversas formas através das quais as pessoas procuram expressá-la e vivenciá-la. E a moda, na medida em que opera estimulando fortemente as fantasias eróticas e os jogos sensuais, nos fornece valiosos elementos para análise e reflexão. Sem dúvida, a incorporação do fetichismo é um deles”.

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