21 de dezembro de 2024
ARTIGO

Medo da morte

Por Ana Carolina Carvalho Pascoalete |
| Tempo de leitura: 3 min

O medo de deixar de existir é uma condição humana, um tabu impregnado nas relações cotidianas, de forma silenciosa.  Sabemos que a morte pode chegar de várias formas e todas essas formas sustentam o medo. Para a psicanálise o medo da morte deve ser visto como algo natural a ser tratado de forma racional, no sentido de que todos os seres humanos existentes caminham, cada dia mais próximos, para o fim da existência.

 E superar esse tabu é um grande desafio e exige de todos, maior compreensão sobre a condição humana, cujo corpo materializado não é eterno. Segundo o laboratório de estudos sobre a morte do instituto de psicologia de São Paulo (USP), o maior desejo do homem é a imortalidade, e devido a esse desejo a morte é considerada a maior inimiga da vida humana, e superar esse medo é um desafio, pois a subjetividade humana é composta por diversas facetas, que variam de um individuo para outro.

Baseado na teoria de Freud, a castração é um passo além da perda por si só. Proporciona uma sensação de perda definitiva e ela se apresenta de diferentes formas na vida. Dois exemplos a seguir, é quando a criança necessita afastar-se da mãe por qualquer motivo justificado, de forma breve, apresentando a sensação desse distanciamento como forma definitiva, ou mesmo a mãe após o parto quando se percebe desligada fisicamente, do bebe que carregou dentro de si durante o período da gestação. Porém o receio da morte desconsidera todas essas perdas percebidas no decorrer da vida, e com as quais todos os seres humanos precisam aprender a lidar. E, com certeza, aprendemos devido não haver outra escolha.  No decorrer do nosso desenvolvimento emocional somos estimulados e educados para ganhar todas conquistas almejadas, desta maneira o estimulo em ganhar esta presente o tempo todo no decorrer da nossa existência, e para superar o medo da morte é importante compreender  que a derrota também faz parte de uma condição humana, e a morte não deve representar uma derrota da vida, mas um fragmento da vida, até porque somente morre quem vive. Saber lidar com a morte de pessoas do vinculo cotidiano parece algo difícil comparado há pessoas que são distantes, mas o medo da morte se propaga ainda mais na vida quando você acredita que somente você ou pessoas que ama estão suscetíveis a isso, e todos os seres humanos estão suscetíveis e que a vida em sociedade passa por várias etapas e a morte é uma delas.

 Vale lembrar que não existe morte sem vida e nem vida sem morte, morrer é abrir caminhos para novas experiências e espaço para outros seres que estão por vir, portanto morrer também favorece o novo. E cada dia mais, os avanços da ciência favorecem que nosso corpo retarde os reflexos decorrentes da idade, fazemos de tudo para retardar o envelhecimento, reconhecendo o mito da eterna beleza e assim construir a idéia de postergar o medo da morte. Pacientes em estado terminal exigem dos demais um comportamento maduro, embora doloroso, para lembrar que a vida tem um fim, com a evolução da doença é permitido o inicio das experiências de caminhar para o começo da morte. Vale lembrar que não existe eternidade nem para bens materiais inanimados, desta forma o ser humano precisa se conscientizar, que sendo matéria, também será atingida pelo tempo.

O medo da morte pode ser um sentimento decorrente da ansiedade, portanto não elaborar e transitar com tranqüilidade em relação a esse tema, pode gerar conflitos e sintomas emocionais nos indivíduos.  Estimular nos indivíduos uma introspecção colabora para que ele próprio consiga fazer uma leitura do seu eu, enquanto ser autônomo, e poder identificar as melhores formas de superar o medo da morte. Necessário conviver com esse fato de maneira harmônica com a vida.