23 de novembro de 2024

Adeus à minha segunda casa

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 3 min

Não é exagerado dizer que uma universidade é nossa segunda mãe enquanto estamos cursando a faculdade. Os professores são autoridades máximas e nos ensinam, tais quais nossos pais. Colegas de classe, muitas vezes, tornam-se nossos irmãos. E a universidade, ah, a universidade! Cada pedacinho daquele espaço parece ser especial tal qual como um lar.

É claro que não são todas as pessoas que possuem essa conexão com a universidade. Mas foi assim comigo!

Estudei na Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), campus Taquaral, entre 2004 e 2007. Naquela época, o curso de jornalismo tinha uma megaestrutura, com estúdio de televisão, fotografia, rádio e uma hemeroteca com um audiovisual invejável a qualquer outra universidade, com direito até a sessões de cinema.

Não à toa, o curso estava nas primeiras posições entre as universidades particulares e tinha nota igual ou até maior que renomadas universidades públicas. Além disso, os professores eram a nata da comunicação do interior paulista. Muitos deles também davam aulas na USP (Universidade de São Paulo) ou vieram de outras instituições onde a comunicação tinha extremo prestígio.

E não era apenas jornalismo. Psicologia, Educação Física, Rádio e TV, apenas para citar alguns que possuíam uma infraestrutura de primeira no Taquaral.

Ir para as aulas na Unimep nunca foi um fardo para mim. Todos os dias, milhares de alunos frequentavam o campus Taquaral, tanto que era até mesmo difícil conseguir comprar um lanche na hora do intervalo.

Lá por 2006, as coisas já começaram a ficar estranhas. Houve um corte em massa e professores e funcionários foram demitidos -- por e-mail! Lembro de ajudar uma das queridas professoras a levar seus livros para o carro, antes de me despedir de vez dela. Foi triste demais!

Os alunos fizeram manifestações, ocupando a reitoria, pedindo explicações, e quase nada foi explicado de fato. Era uma época em que novas redes de universidades estavam tomando a cidade como “franchising” de hambúrguer, com valores bem mais baixos que os cobrados pela Unimep, mas estruturas bem inferiores.

O fato é que a crise havia chegado! Desde 2006, já se falava na venda de outros campi, no fechamento de cursos e o enxugamento, cada vez maior, do número de professores e funcionários, principalmente os mais antigos, com altos salários.

Há anos já não acompanhava mais o desenvolvimento da crise na Unimep, mas me choquei ao saber, na última semana, da mudança da universidade totalmente para a unidade do centro e que o destino do campus Taquaral é incerto.

E não foi só choque. Foi decepção, tristeza, mágoa, raiva e tantos outros adjetivos que me deixaram sem palavras.

Eu não sou especialista para dizer de quem é o erro, existem integrantes de associações e profissionais que podem e estão dizendo melhor do que eu poderia.

Mas como ex-aluno, não tem como não expressar a revolta. O campus Taquaral da Unimep não é apenas um prédio onde uma universidade vai deixar de existir, como poderia acontecer com tantas outras instituições de ensino. Ele faz parte da memória de milhares de pessoas. E mais: da história da cidade de Piracicaba.

Foram muitos momentos pessoais vividos por lá, da produção acadêmica às apresentações culturais com os grupos de teatro da universidade do qual fiz parte, do início da carreira jornalística, como estagiário da TV Unimep, às primeiras vivências na jovem vida adulta.

A Unimep pode continuar existindo de muitas outras formas, mas não com a mesma grandeza, magnitude e imponência da Unimep Taquaral.

Minha segunda casa, onde viveram eu, meus mestres amados e meus tantos amigos que levo para a vida, vai deixar saudades e um buraco imenso dentro da comunidade acadêmica brasileira.