“O senhor P.B, segundo a enfermeira, está desidratado, nem água está bebendo, não está comendo e nem banho estão dando nele, está há três dias sem banho”.
Este é um trecho do relato de uma funcionária do Lar dos Velhinhos de Piracicaba anexado pela prefeitura à representação feita ao Ministério Público do Estado de São Paulo. O órgão propôs uma ação civil pública com pedido de liminar para afastamento do presidente e membros da diretoria e nomeação de um interventor para a instituição.
O trecho citado acima faz menção ao “quarto da morte”, onde, segundo a denúncia, o idoso era colocado para morrer. “Mas como não tem cuidador, então colocam nesse quarto para morrer”, informou a funcionária, segundo documento da Procuradoria Geral do Município.
De acordo com o relato, o senhor P.B morreu em condição de abandono, assimo como uma idosa e outro idoso, no dia 1 de julho de 2022. “Por abandono, negligência e omissão da atual administração e as autoridades aqui de Piracicaba não estão tomando providências imediatas”, diz a funcionária.
Na edição desta quarta-feira (25), o JP trouxe detalhes da ação movida pelo MP, com pedido de liminar, contra a diretoria da entidade. Leia aqui.
Os relatos, considerados estarrecedores pelo documento assinado pelo procurador Guilherme Mônaco de Mello, foram recebidos pela prefeitura em outubro de 2022 e citam ainda o “Pavilhão Guidotti”, onde são acolhidos idosos com maior grau de dependência.
O relato, agora, é da Comissão de Monitoramento e Avaliação do Lar dos Velhinhos, que constatou a prática do banho coletivo, quando vários idosos cadeirantes permaneciam em fila, próximos à entrada do banheiro, expostos ao vento e ao frio, sem qualquer privacidade no momento do banho. Segundo o documento, não há porta no banheiro.
O documento apresentado pela Procuradoria para pedir a intervenção judicial na instituição cita que uma carta endereçada ao presidente Yvens Santiago, contendo 40 laudas manuscritas por uma idosa, já falecida, que residia no lar, também foi endereçada ao Ministério Público como ‘pedido de socorro’, com graves denúncias de maus-tratos e humilhações praticados por cuidadores, além de problemas na estrutura física da instituição, problemas relacionados à alimentação e ineficiência da administração.
“Portanto, diante do quadro fático demonstrado e da impossibilidade de solução da questão pela via administrativa, fica evidente a necessidade de imediata intervenção do Ministério Público e do Poder Judiciário na mecionada entidade, visando resguardar os direitos fundamentais dos idosos que lá se encontram ou que para lá venham a ser encaminhados”, traz o documento da Procuradoria do Município.
A reportagem do Jornal de Piracicaba foi até o Lar dos Velhinhos nesta quarta-feira (25). Uma funcionária informou que apenas o presidente foi afastado. O JP procurou o presidente e, novamente, ele não quis comentar as denúncias.