21 de dezembro de 2024

Chico, Hummes e Rouanet. Não esquecer jamais

Por David Chagas |
| Tempo de leitura: 4 min

Por David Chagas

Deus é inteligente. Entenda e sinta. Não fosse assim, as celebrações da memória de Chico Xavier não coincidiriam com a ascensão à Luz de Dom Cláudio Hummes e do embaixador Sérgio Paulo Rouanet. O bom humano juntando-se ao Bem Supremo para iluminar o Brasil.
Quantos souberam de dom Cláudio, como sei, ou dele se lembram com afeto e gratidão? Quantos? Quantos reconhecem sua grandeza de espírito, seu compromisso com o Evangelho e sua verdadeira vocação cristã? Quantos seguiram seus passos na caminhada em favor do meio ambiente e da ação da Igreja Católica na Amazônia?
Dentre tantos, quantos, além dos personagens ligados à Cultura, viveram a experiência de conversas com Sérgio Rouanet, reconhecendo sua visão de mundo equilibrada, seu senso de justiça, sua correção de caráter? Quantos? Famoso pela lei que criou, obrigou-se, agora, no ocaso, a conviver com estado de coisas que nos agride a todos, desejoso de esmagar a diversificada e rica cultura brasileira. Críticas desnecessárias, injustas, desrespeitosas devem ter constrangido o intelectual e diplomata sempre correto em suas atitudes, equilibrado em suas decisões.
Junto nesta manhã Cláudio Hummes e Sérgio Paulo Rouanet, assim, sem títulos de excelência, nobres a serviço do país e de seu povo. Clamo pela memória de Chico Xavier e Walter Accorsi. A herança que fica.
Desde ontem, junto, sob a bandeira da minha terra onde cabemos todos, sem divisões nem ideologias, pelo caráter, obra, senso de trabalho e de justiça a ideais de liberdade brasileiros como eles. Impulsionado pela lembrança do professor Walter Accorsi, revolucionário de 32, a quem, ao longo da vida, num tributo único de respeito, admiração e carinho, dediquei, quando editor, página inteira revelando façanhas em defesa do Brasil, em Revolução que tentou, de algum modo, revelar a importância do respeito à Constituição que, agora, também comemoramos.
Dr. Walter, como tantos outros, tingiu, em plena juventude, seu traje de guerra com sangue de amigos e do próprio irmão, mas seguiu adiante, gritando por liberdade, por justiça, por honradez e dignidade, marcas de seu caráter, sinônimos de seu próprio nome. Nisto se alia à lembrança de Cláudio Hummes, Sérgio Paulo Rouanet e Chico Xavier.
Por isso, sem hesitar, junto uns e outros que perfilaram com ele na defesa da nação democrática na defesa de direitos e da verdade. Brasileiros, não importa onde estejamos ou tenhamos nascido, em que pedaço desta harpa imensa dedilhamos uma mesma canção, uma só pátria, importante alimentar-se, sempre e mais, do sonho de liberdade, de justiça e de esperança.
Como? Lutando bravamente em favor do que dita e diz a Constituição do Brasil; fazendo com que cada palavra dela reverbere a verdade contida e o sentido determinado pela vontade do povo.
Muitos, todos sabemos, têm tentado de múltiplas formas, tirar-lhe o sentido e a verdade. Mudam este e aquele artigo, alteram capítulos, provocam mudanças com projetos de emenda, fazem e desfazem do que nela pulsa e dá tom à vida democrática.
Meu Deus! - dever nosso, desde o mais distante brasileiro, lá do norte, até o poeta que há cem anos, com sabedoria, pensou o que digo agora e me fez lembrar deste homem “muito longe de mim,/ na escuridão ativa da noite que caiu,/ pálido, magro, de cabelos escorrendo nos olhos. (…) Esse homem, brasileiro que nem eu….”
Clara descoberta do poeta paulista, me permite falar de São Paulo, louvar São Paulo e seu mapa de pátria guerreira, acolhendo multidões. Se penso neste brasileiro que nem eu perdido na imensidão amazônica espelhado na bandeira lem busca do alimento, da liberdade, da justiça e da paz, nele também encontro o da cidade grande, em meio à multidão, oferecendo sua força, dando ritmo ao desenvolvimento e ao progresso.
Quem nos une neste abraço? Que laço nos ata uns aos outros fazendo-nos verdadeiramente próximos? A carta sagrada, este livro bendito, que clama por igualdade, por direitos, por respeito num conjunto de leis fundamentais à vida de uma nação, elaboradas e votadas por um congresso de representantes do povo, que regulam as relações entre governantes e governados, traçando limites entre os poderes e declarando garantias individuais.
É preciso orgulhar-se desta lei básica que, entre tantas coisas nela contidas insiste nos direitos fundamentais do homem brasileiro e de sua relação com a vida.
Chico Xavier, dom Cláudio Hummes e o embaixador Rouanet deixam, em sua pegada, este sinal. Chico Xavier, mineiro, semeador da justiça e da paz. Cláudio Hummes, gaúcho, homem singular, ético e predestinado. Sérgio Paulo Rouanet, carioca. Filósofo. Antropólogo. Diplomata. Visão de mundo como poucos tiveram.
Foi Rouanet quem observou e escreveu, há alguns anos, sobre três rebeliões perceptíveis no Brasil e no mundo: contra a razão, contra a modernidade e contra a ilustração. Brilhante, na contracorrente do que constata, propõe “resgate crítico do conceito de razão, do projeto de modernidade e do legado da ilustração”.
Ao rever deles o que fica, não se apequene diante de tanta luz. Siga o exemplo. Siga o rasto. Deles, fica o melhor. Eternamente.

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