21 de novembro de 2024

Por que a homossexualidade incomoda tanto?

Por Luiz Xavier |
| Tempo de leitura: 3 min

Por Luiz Xavier

Quero abordar este tema, aproveitando que hoje à noite, às 19 horas, faremos uma “Live” pelo meu Instagram @luiz.xavier1 - com o Dr. Oswaldo Rodrigues Jr. - psicólogo, terapeuta sexual e de casais, e também diretor presidente do Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex), autor de mais de 80 artigos científicos e vários livros.
Para falar deste tema fui buscar nos meus apontamentos trechos de uma entrevista do psicanalista Contardo Calligaris. Acompanhem:
“Quando as minhas reações emocionais são excessivas, deslocadas e difíceis de serem justificadas é porque emanam de um conflito interno. Por que afinal me incomodaria meu vizinho ser homossexual e beijar outro homem na boca? De forma simples, o que acontece é: ‘Estou com dificuldades de conter a minha própria homossexualidade, então acho mais fácil tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ou seja, condená-la, persegui-la e reprimi-la, se possível até fisicamente porque isso me ajuda a conter a minha’. Se eu tenho uma vaga impressão de que eu poderia ter uma atração por um colega de classe, então acabo construindo uma série de comportamentos que me convençam de que não só não tenho atração nenhuma como eventualmente posso chamar esse colega de veado, criar um grupo de pessoas que compartilham daquela opinião e esperar ele sair da escola para enchê-lo de porrada.
Eu não diria que o homofóbico necessariamente é um gay enrustido. A homofobia responde a uma necessidade de reprimir uma parte da sexualidade, mas não significa necessariamente que essa pessoa seja homossexual. É alguém que está reagindo neuroticamente a traços de homossexualidade que estão em cada um. Isso já é suficiente para criar a homofobia.
A sociedade brasileira ainda é fortemente preconceituosa. O clássico é a piada de veado, que faz todo mundo rir e ocorre numa roda de homens na padaria. Esses homens celebram rindo um laço entre eles que, no fundo, é homossexual. Os homens que saem à noite para dar porrada em homossexuais substituem o que seria uma homossexualidade neles batendo em quem eles supõem ser homossexual.
No caso de pais que se consideram esclarecidos, quando descobrem que o filho é gay, tem uma parte da reação que não é necessariamente homofóbica. Há um sentimento de perda e preocupação. Pensam: ‘Se o meu filho for gay, a vida dele será mais dura. Uma noite pode estar numa praça e ser agredido. Enfim, haverá uma série de limitações’.
A homossexualidade é produzida por uma série de coisas complexas, algumas, aliás, não têm nada a ver com o tipo de criação que a pessoa recebeu. Ainda existem, sim, pais que se recusam completamente a aceitar que os filhos sejam gays. Existem casos de homossexuais que perderam o contato com os pais a partir do momento em que saíram do armário.
Homossexualidade é genética ou construída? É um debate aberto. O que todo mundo sabe hoje é que a genética não é o destino de ninguém. Mesmo que existisse um gene da homossexualidade, que, se existe, ainda não foi encontrado, ele precisaria ser posto em ação. Os nossos genes se realizam ou não a partir de uma série de questões relacionadas ao ambiente – geofísico e humano. Imaginar que exista uma separação rigorosa entre o genético e o construído é ingênuo. O caso é interessante porque mostra que a coisa é mais complexa.
As crianças criadas por casais homossexuais NÃO sofrem de dificuldades específicas. Seu desenvolvimento NÃO é diferente do de crianças de casais heterossexuais. Está absolutamente claro que as estatísticas, tanto do futuro da vida sexual dessas crianças como da patologia eventual delas, são absolutamente idênticas às das crianças criadas por casais héteros”.

LEIA MAIS