21 de dezembro de 2024

A importância do autoconhecimento – 2

Por André Sallum |
| Tempo de leitura: 3 min

Vivemos em uma época na qual predominam o olhar externo, o fascínio pelas conquistas científicas e tecnológicas, a hipnose pelas redes virtuais de comunicação e os apelos imediatistas e consumistas que nos assediam continuamente.
O mundo interior, para a maioria de nós, é um universo que permanece inexplorado, do qual provêm os mais diversos impulsos, muitos dos quais indesejáveis, inadequados ou destrutivos, sem que saibamos como lidar com as situações decorrentes desse movimento. As inspirações e motivações para tudo o que realizamos permanece em grande parte ignorado, por isso temos dificuldade em lidar com questões subjetivas, emocionais e de relacionamento interpessoal. Ao negligenciarmos nosso universo interior tornamo-nos reféns de impulsos, condicionamentos e padrões comportamentais que se expressam de modo quase automático, sem passarem pelo crivo da razão, sem que sejam objeto de reflexão lúcida e sem que tenhamos plena consciência do que fazemos e do porquê o realizamos.
Além da nossa parcela consciente, trazemos imenso acervo psíquico inconsciente, provindo do passado, o qual frequentemente se manifesta em nossa vida sem que nos apercebamos do quanto somos por ele influenciados. Nosso mundo interior precisa ser adequadamente reconhecido, compreendido e ordenado, a fim de preservarmos a sanidade mental, o equilíbrio emocional, a funcionalidade social e sobretudo para que os impulsos provindos do nosso interior se manifestem de modo saudável, construtivo e criativo.
Esse mundo interior, quando relegado ao abandono, impede que nossas melhores qualidades e atributos possam se expressar mais plenamente. A intuição, por exemplo, em diversas situações pode resolver aquilo que nossa razão é impotente para solucionar, e para que se possa utilizar desse atributo anímico é necessário reconhecê-lo, valorizá-lo e exercitar seu uso, o que somente é possível a quem se conhece mais profundamente.
As instruções de natureza espiritual, desde que corretamente compreendidas e aplicadas, podem se tornar ferramentas valiosas no processo de autoconhecimento, quando então passam a desempenhar uma função, além de consoladora, também educativa, ao fornecer subsídios à reflexão e à aplicação dos seus princípios aos problemas cotidianos. Quando um caminho espiritual responde aos anseios e aspirações mais elevados do ser e às suas indagações e quando fornece elementos para que se conheça cada vez mais profundamente, cumpre sua missão educativa. Caso contrário, pode se converter em instrumento de alienação, manipulação e controle. Até mesmo os condicionamentos de natureza religiosa podem ser obstáculos à evolução, desde que não permitam a cada um pensar, sentir e intuir de modo cada vez mais livre. Conhecer melhor a si mesmo pode também significar reconhecer o quanto estamos submetidos a condicionamentos, o quanto agimos impulsionados por aspectos inferiores do nosso ser, como medo, desejos, ansiedade, ambição, etc. É importante percebermos o quanto nos identificamos com crenças, ideologias, convenções, conceitos, a fim de nos tornarmos mais livres, ainda que seja para decidirmos permanecer vinculados aos mesmos. Reconhecer esse processo, ainda que não seja inicialmente agradável, pode fornecer os elementos necessários e indispensáveis à libertação para uma vida mais madura, livre e feliz.
Conhecer-se em profundidade é também conhecer o outro, o mundo, a vida e seus propósitos, enriquecendo de sentido a existência.

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