22 de novembro de 2024

Futuro do pretérito

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 2 min

Lá estava eu com oito anos, início dos anos 1990, folheando algumas revistas Superinsteressante que meu pai colecionava.
Em várias delas uma coisa sempre me chamava a atenção por ter inúmeras figuras coloridas e chamativas para uma criança.
Eram matérias que previam os anos 2000 e toda a tecnologia que existiria quando eu fosse adulto. Nas páginas, as pessoas vestiam roupas estilo espacial, os carros voavam, robôs faziam faxina, os prédios teriam quilômetros de altura e por aí em diante.
Ou seja, o futuro era praticamente Os Jetsons.
Os anos se passaram e já estamos 17 anos à frente da virada do milênio.
Irei adulto e, ao invés daquele futuro distante, a humanidade está mais parecida com outro desenho de Hanna-Barbera, Os Flinstones.
Além dos itens materiais, o futuro previsto há 30 anos também esperava que pudéssemos viajar ao espaço a preços acessíveis, fôssemos "brothers" dos extraterrestres e viveríamos em um mundo de paz, já que seria possível ter inteligência suficiente para se viver em harmonia.
Se nos anos 1990 o sonho era um futuro com carros voando, em 2022 as pessoas esperam apenas um futuro onde exista a possibilidade de comprar, pelo menos, um carro usado.
Ou então ter emprego, educação para os filhos, comida no prato.
Ninguém precisa tirar os pés do chão para ir ao espaço, basta conseguir comprar uma passagem de avião para ir confortavelmente passar as férias no Nordeste, por exemplo. Quer dizer! Nem todos.
A gente também não precisa ter contato com extraterrestres se nem com os vizinhos conversamos direito.
Melhor seria a relação entre os humanos ser mais caridosa.
Também ninguém está precisando de robôs. Rosie, a robô faxineira dos Jetsons, é muito simpática, mas no nosso futuro basta que possamos ter empregos com salários justos e leis que nos defendam.
Precisamos também de investimentos na ciência, que a cada dia está deteriorada para o benefício de nós mesmos.
Ah, os prédios também não precisam ser tão altos, basta ter lugar para todo mundo morar. Hoje em dia são as filas para casas populares que são quilométricas e muita gente segue vivendo na rua.
É decepcionante ser um adulto contemporâneo após as previsões daquele passado.
Claro, até aquelas previsões eram absolutamente fictícias, mas, pensando bem, acreditar naquela época que os anos 2000 seriam diferentes mostrava como éramos mais esperançosos. E hoje?
Alguém aí pensa que daqui 50 ou 80 anos as coisas estarão melhores ou piores? A "mágica" de uma virada de século causaria isso às pessoas ou realmente perdemos a esperança?
O futuro não é uma ilusão nem um filme de ficção. Ele não precisa de grandes mudanças visuais ou tecnológicas, mas sim alterações severas na nossa forma de administrar esse mundão, para que pelo menos ele sobreviva até lá.

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