21 de novembro de 2024

A força devastadora da fofoca

Por Francisco Ometto |
| Tempo de leitura: 3 min

No cenário pessoal ou profissional, invariavelmente nos deparamos com ela: a fofoca. Afinal, você nunca foi vítima de um “fofoqueiro” de plantão? Não? Talvez você já tenha sido, então, o próprio fofoqueiro? Enfim, sem exceções, a fofoca faz parte da vida das pessoas - direta ou indiretamente.
Em pesquisa realizada pelo LinkedIn, 17 mil usuários de 16 países responderam a pergunta: “O que mais te irrita no trabalho?” Para os profissionais brasileiros, 83% dos pesquisados mencionaram a fofoca em excesso.
Existe explicação para o fato de algumas pessoas gostarem de fofocar ou apontar o erro dos outros? Sim, existe! Várias carências do campo inconsciente “justificam” o uso, que nasce (paradoxalmente) de amor ou de ódio. Uma pessoa bonita causa admiração para alguns e inveja para outros, por exemplo. Agora, se o comportamento do outro fere os “padrões normais”, aí é que a fofoca se instala poderosamente.
Uma fofoca pode ter a intenção de agredir uma pessoa e isso pode vir de várias fontes:  inveja, ciúme, lixos emocionais acumulados, frustrações ou outros transtornos.
Entretanto, a fofoca pode ser motivada não apenas pela necessidade de atacar ou ferir alguém. Quem faz a fofoca pode estar sendo levado pelo prazer de projetar em si algo que o outro viva ou tenha. Isso explica o fascínio das pessoas pela vida de famosos e também explica – por consequência - o grande sucesso dos programas de televisão, de revistas ou de outras mídias que trabalham com o tema fofoca, e, então, se alimentam e se reproduzem dessa “necessidade inconsciente” das pessoas. Dessa forma, quem lê essas revistas ou assiste os programas, vive de forma ilusória o que aqueles famosos estão vivendo, numa espécie de tentativa de transferência, pois sabem que seria bem difícil experimentarem aquilo de forma real.
E, finalmente, atrás de uma fofoca, pode estar também aquela vontade gerada pela necessidade de comentar alguma coisa de outra pessoa, o que, na verdade, pode ser um problema ou uma carência da própria pessoa que está fofocando ou criticando. O que ela faz, na verdade, é comentar de si mesma, “usando” a outra pessoa e isto ocorre porque fica mais fácil falar do outro do que de si mesmo ou, então, transferir responsabilidades, culpando o outro.
Importante lembrar que a maioria das fofocas trabalham com meias verdades ou completas mentiras e normalmente apenas um lado é divulgado ou ouvido, entretanto, as conclusões partem desse ponto e, então, vão se espalhando… Rapidamente, muita gente acaba sendo prejudicada e, mesmo que a fofoca seja verdadeira, a intenção de quem faz revela um estado interior mal resolvido, conflitos, que, se não tratados, vão adoecendo o fofoqueiro, psíquica e fisicamente.
Portanto, vale o empenho pessoal de cada um de nós em buscar um olhar mais interior, uma análise melhor de si mesmo, pois dessa forma nos desenvolvemos. Ficar longe de pessoas maldosas e evitar comentários desta natureza, bem como focar sempre o lado positivo, é o melhor caminho. Olhar para os defeitos do outro de modo destrutivo não nos capacita nem nos agrega nada.
Independente de onde “encaixamos” a fofoca ou a crítica destrutiva, é fundamental ressaltar que não estamos tratando de algo saudável ou positivo para corpo e mente (tanto do lado de quem fofoca quanto do lado de quem sofre a fofoca). Vale também lembrar uma famosa frase de Freud sobre o tema de hoje, que deixo como reflexão: "Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo".

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