25 de dezembro de 2024

Hora de dormir

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 3 min

Madrugada, 1h38. Sem sono há mais de uma hora! Pensamentos voam nessa nave chamada travesseiro.
(Escolho ouvir uma playlist de som de chuva, em vão! Conto ovelhinhas, nada!)
Pego-me pensando. Qual o nome mesmo dos nove planetas? Quantos anos deve ter o Silvio Santos? Será que foram os ETs mesmo que ajudaram a construir as pirâmides?
Mas um pensamento me desperta ainda mais: quantas vezes já me apaixonei? Quando foi que senti aquele click? Sabe aquele click?
O click é como uma chavinha que vira na sua cabeça depois que você conhece alguém e…boom! A bomba da paixão explode.
("Bomba da paixão"! Parece título de pagode cafona.)
Fui contando nos dedos… foram… um… deixa eu pensar! Dois…ah, tem aquele… três!

(O relógio bateu 2h da madrugada. Mas ali continuei)
Google: "quantas vezes uma pessoa se apaixona na vida".
Enter!
"O Instituto Opera North afirma que uma pessoa só se apaixona em média quatro vezes durante a vida. Os resultados sugerem que a média de idade para se estabelecer é de 27 anos, e 33% das pessoas fazem isso com seu primeiro amor."
Segundo minhas contas, tenho só mais uma ficha pra gastar, já passei dos 27 faz tempo e se estou aqui de madrugada pensando sobre isso é porque de fato não me estabeleci.
Entre meus amigos, uns 20% estão entre os que se estabeleceram aos 27, outros 30% trocam de namorado como quem acende cigarro na bituca e a metade ou está divorciada ou solteira. Alguns desiludidos, outros na pegação eterna e há quem prefira Netflix.
(Viro pra direita, arrumo a cobertura, abraço o bichinho de pelúcia com os pelos meio bagunçados de tanto que já foi esmagado, e penso: "deve ser por isso".)
Deve ser por isso que os tais dos "clicks" não são mais tão comuns. E quando acho que vai acontecer, plaft! Era engano.
Deve ser por isso que já não acredito mais em encantos e se o coração acelera um pouco mais, culpo a ansiedade e boa! Vida que segue.
Deve ser por isso que cada vez mais vejo entre os meus a mesma queixa!
—"Ah, e aquele boyzinho que tava super afim de você?"
—"Pois é! Desapareceu!"
Aqui na gringa eles chamam de "ghosting"! Isso mesmo, de sumir igual um fantasma some na sombra do cemitério.
Não tem "tchau", "até breve", "fique bem"!
Toda semana tem alguém se queixando de mais um pé na bunda, mais uma desilusão, mais alguém que disse: "não estou no momento certo de me relacionar". E um mês depois está subindo no altar com outrem!
E daí vai parecendo que as fichas estão acabando. E mesmo que estivessem sobrando. Onde apostá-las?
"Sempre tem um chinelo velho para pés cansados", "Você vai encontrar a tampa de sua panela", "Todo mundo tem uma alma gêmea"… frases feitas pra gente se iludir.
O fato é que relacionamentos têm sido mais descartáveis que copinho de plástico de café em escritórios de telemarketing.
(Viro de barriga pra cima, respiro fundo e coloco uma meditação guiada.)
A moça da meditação diz em voz calma para esquecer as questões mal resolvidas e tentar relaxar. "Não vamos resolver isso agora, não é mesmo?". Concordo, mas dou uma bufada! Como se fosse fácil, né, dona meditadora.
Vou seguindo a meditação. Aquela musiquinha de restaurante japonês de trilha sonora vai ajudando no sono.
O travesseiro vai cumprindo seu papel. Vai ficando fundo, fundo, fundo… vejo corações partidos misturados e ovelhinhas saltitantes, que vão desaparecendo… desaparecendo… até que eu adormeç…nrapn9nqp943anofao´nsom´kf

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