Para o escrevinhador, é óbvio não lhe caber a narrativa sobre o surgimento da imprensa e a sua contribuição para a propagação da cultura e da ciência no mundo. O feito de Guttenberg, inventando a plana, é uma das criações transformadoras da humanidade. No entanto, essa mesma imprensa pode ser usada também para manipular a opinião pública, num verdadeiro crime que, especialmente agora, há que ser responsabilizado.
O jornalismo faz parte da história da civilização, contribuindo com as transformações do mundo. O primeiro objetivo foi o de informar, o de socializar acontecimentos. E, ao mesmo tempo, divulgar opiniões, opor-se a atentados contra a comunidade. Os poderes sempre reagiram à e contra a ação jornalística. Por outro lado, porém, todo poder sempre foi suficientemente astuto para tentar seduzir ou para absorver os seus oponentes. E, desgraçadamente, parte da imprensa muitas vezes aceitou ser aliada do poder.
Houve um momento histórico em que a imprensa – dada a sua importância – entendeu a necessidade de abrir-se às mais diferentes opiniões. Nunca se tratou de imparcialidade, mas de honestidade e justiça. Pois as populações não tinham outra forma de expressão a não ser pelos jornais, a “imprensa escrita”. Confesso ter sido formado ainda nessa escola, a de dar espaço ao controverso. E de emitir opinião, de ter opinião. E de acolher opiniões diferentes, desde que fundamentadas. Essa é a exigência: opinião com fundamento.
As conquistas tecnológicas alteraram diversas realidades anteriores. E alcançaram, também, o jornalismo mundial, na necessidade de os veículos reverem-se. O proclamado “jornalismo objetivo” refere-se à notícia, informar sem qualificar. Por exemplo: antes, escrevia-se que “sob um sol escaldante, o facínora, tomado de ódio, baleou o aniversário”. Agora, “um homem foi baleado ontem, por volta das 14h.” A objetividade da notícia traz a realidade ao leitor. A opinião, obviamente, expressa a subjetividade do redator, sujeita, portanto, a riscos e controvérsias.
A internet de tal forma expandiu as possibilidades de comunicação que – no meu entender – a responsabilidade da imprensa, do jornalismo escrito, parece ter retornado a seu princípio: ideias, pensamento, opinião. A notícia tornou-se imediata, divulgada por rádio, tevê, internet, blogs, podcasts. O comentário, a análise, a interpretação – ou a pós-notícia – passou a exigir do jornalista do papel. E, mais do que em algumas outras vezes, a condição essencial é a credibilidade.
Acredito, pois, que o jornalismo de papel tem outro papel no jornalismo. E é o de procurar a honestidade na análise dos fatos após terem sido, estes, já revelados por outros veículos. Nesse sentido, vejo como imperativo a imprensa não mais se abrir a opiniões sem fundamentos, a teorias e teóricos contrários aos consagrados valores humanos. Creio ser necessária a clareza de cada jornal afirmar e revelar as suas posições ideológicas, políticas. Para o leitor saber, finalmente, o que os referidos veículos pensam. Ora, dizer-se neutro ou imparcial diante de realidades não tem sentido. A gloriosa Atenas, quando de conflitos graves, punia os que se diziam neutros com a perda da cidadania.
Definir-se tornou-se exigência primordial diante da perplexidade das populações em todo o mundo. Selecionar, pois, seus colaboradores nada tem de antidemocrático. Pelo contrário, é precaução e responsabilidade, um estar na vigilância constante. Oposição ao erro, aos males, à agressão.
A internet abriga maravilhas mas, também, o caos. A imprensa retorna à sua “Hora H”.
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