25 de dezembro de 2024

Sem pensar...

Por Marisa Bueloni |
| Tempo de leitura: 3 min

O cronista tem grande liberdade de expressão, e assim pretendo manifestar aqui meu desalento com o que fazemos sem pensar. Sem pensar… Quanto arrependimento isso já nos causou? E quantas noites em claro ainda passaremos, por fazer ou dizer algo sem pensar?
Refiro-me, também, aos assuntos do coração, mas incluo aqui todas as demais turbulências do relacionamento humano, ousadias da juventude,  inseguranças da idade adulta e, depois, as escorregadelas do tempo provecto, quando cabelos brancos não querem dizer absolutamente nada.
Os fios de prata por baixo da cabeleira apenas apontam para uma tempestade hormonal que teima em percorrer corpo e alma, como se neles pedisse moradia fixa. Sem querer, magoamos quem mais amamos. Tem volta? Depende. Mas nem sempre é possível a reconciliação. O tal “felizes para sempre” é coisa das histórias de príncipe e princesa. E a vida real não é feita de fadas, castelos, felicidade eterna.
Pedir perdão é um gesto da mais pura nobreza. Pedir perdão e saber perdoar. Duas mãos, dois tesouros. Desejo de restabelecer a harmonia comprometida, a amizade desfeita. De minha parte, luto para não ofender ninguém. Contudo, numa situação inesperada, onde nos sentimos atingidos em nossa dignidade, podemos, sim, cometer o grave deslize da ofensa.
Creio que poucos possuem nervos de aço, sem sangue nas veias, como diz a letra de uma música. Todos nós somos bastante frágeis e passionais, quando a questão é uma contenda na qual nos vemos desrespeitados. Há momentos em que tudo o que aprendemos sobre autocontrole e domínio das emoções nos foge completamente.
Minha mãe costumava dizer umas coisas bem duras acerca desta questão. Que passássemos as piores humilhações (e aqui não ouso repetir suas palavras), mas que jamais respondêssemos, ou brigássemos. Em vão. Claro, querida mãe, que nem sempre foi possível seguir à risca seu santo e maternal conselho.
Lutamos dentro de nossas forças para que algo pior não aconteça, para que nossa língua se segure, e que a mordamos se preciso for. Pode ser difícil calar de vez, mas lutamos para que o estrago não seja grande demais. É doloroso, não dá para dormir à noite depois de ter dito tudo na cara do outro, não dá.
Quem não viveu algo parecido? Quem já se sentiu perdido e desnorteado numa discussão, sabe como é. Há equívocos, desentendimento, confusão. Sentimo-nos humilhados e, por um segundo de irreflexão, perdemos a paciência, vindo a nos arrepender pelo resto da vida.
Mas, ah! E quando o outro entende que foi o causador do equívoco! Quando percebe que, sim, foi ele mesmo o autor do desatino e nos perdoa pela nossa destemperança. E então, vem um e-mail doce e compreensivo, uma mensagem pelo whatsApp de bandeira branca, acenando a reconciliação. O coração pula de alegria e até o sono da noite se recupera.
Temos de ficar atentos a esta trama diabólica que é a emissão da palavra, seja dita ou escrita. Uma vírgula mal colocada pode dar início a algo bem tempestuoso.  Felizmente, um final feliz e pacífico surge no horizonte, quase sempre, e a vitória do bom entendimento reina de volta. Mas, admito, há os casos irreversíveis. Paciência.
Certamente, caro leitor, você também já fez das suas, num momento de precipitação. Todos nós fazemos. E a desculpa está justamente neste fato: foi sem pensar. Dizem que de pensar morreu um burro, mas pensar muito nunca será considerado excessivo, quando a questão é a boa palavra, o bom relacionamento, a bonança entre tudo e todos.
Sem pensar? Nunca mais!…

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