25 de dezembro de 2024

Samba: uma expressão preservada

Por Rosângela Camolese |
| Tempo de leitura: 3 min

á faz alguns anos que a Liga das Escolas de Samba de Piracicaba, com o apoio do Poder público, comemora em 2 de dezembro, o Dia Nacional do Samba. Falar de samba, é falar de Brasil e há muita, muita história para contar, e aqui não temos todo esse espaço. Decidi, então, falar um pouco sobre o surgimento do samba que, do Rio de Janeiro, se espalhou para o mundo.

A lei n° 554, de 27 de julho de 1964 que instituiu a data, foi sancionada no antigo estado da Guanabara. Conta-se que a escolha do 2 de dezembro deu-se em homenagem a Ary Barroso, autor, entre outras canções, de Aquarela do Brasil e Na Baixa do Sapateiro. Acontece que Ary nunca havia ido à Bahia e esse foi o dia em que ele visitou Salvador. Assim, a ideia surgiu na Bahia, foi sacramentada no Rio de Janeiro, se espalhou pelo Brasil e virou comemoração nacional.

O samba que nos representa no mundo, nasceu carioca no início do século XX, com a comunidade baiana que para lá se instalara. Nesse grupo estava Hilária Batista de Almeida (1854 / 1924), chamada tia Ciata, que se tornou símbolo afro no pós abolição e uma das grandes incentivadoras do gênero.

Vestida como uma autêntica baiana, ela vendia quitutes na Praça Onze para ajudar no sustento da família. Foi uma das primeiras baianas quituteiras na Cidade Maravilhosa e junto das outras que traziam delícias em seus tabuleiros, garantiu a preservação da cultura afro-brasileira.

Ciata morava na Pequena África, região central carioca bastante citada no folhetim global “Nos Tempos do Imperador”. Sua casa sempre aberta, era referência de boa comida e muita música. Lugar de encontro daqueles que hoje são personalidades reverenciadas como Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, Sinhô, João da Baiana e tantos outros. Aliás, foi numa dessas reuniões que Donga, em parceria com Mauro de Almeida, compôs, Pelo telefone, o primeiro samba gravado no país, em 1917.

Naquele início de século XX, o samba e outras manifestações de matriz africana, era proibido pela polícia. Mas, não na casa de tia Ciata. Ela que era também famosa por seus benzimentos, curou uma ferida da perna do presidente Venceslau Brás. Ele, agradecido, quis saber o que ela desejava em troca. O pedido foi para que as rodas de samba em sua casa não fossem incomodadas pela milícia.

E o carioca, espertamente, também buscou alternativas para poder se expressar. Paulo da Portela, primeiro presidente daquela escola de samba, há mais de 100 anos tocava com os amigos dentro do trem, fugindo dos olhos da repressão. A ideia centenária tornou-se um evento reproduzido no Rio, parte do calendário oficial da cidade.

E isso lembra carnaval, a apoteose do samba. A pioneira das escolas foi Deixa falar, fundada em 1928 e durou apenas cinco anos. O primeiro desfile oficial aconteceu em 1935, tendo a Portela como vencedora. Hoje, os desfiles acontecem de norte a sul e trazem turistas do mundo todo para apreciar sua arte e beleza.

O reconhecimento dessa força cultural se oficializa em 2005 quando a Unesco reconhece o samba de roda como patrimônio imaterial da humanidade. Dois anos depois, as matrizes do samba do Rio de Janeiro, entram para o Livro de Registro das Formas de Expressão do Iphan.

Samba: uma expressão preservada que merece ser reverenciada. Viva os sambistas piracicabanos!

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