Vivemos num país bonito por natureza, machista por formação. Sim, esta é a realidade que mudou muito nas últimas décadas, mas continua deixando suas marcas. Consequências de uma sociedade onde o macho é a figura central e cheia de razão, enquanto a fêmea é a frágil criatura que não sabe o que diz.
Exagero? O Michaelis define machismo como: Qualidade, comportamento ou modos de macho (homem); macheza, machidão. Orgulho masculino em excesso; virilidade agressiva. Ideologia da supremacia do macho que nega a igualdade de direitos para homens e mulheres.
Ao tratar do tema, o feminismo latino fala do machismo estrutural. Acredito que ele é, principalmente, cultural. Nossos colonizadores trouxeram esta forma de ser que foi se reproduzindo através dos tempos. Mulheres tinham que obedecer cegamente aos pais e aos maridos. Não podiam sair de casa sozinhas. Eram consideradas incapazes de desenvolver uma atividade produtiva. Serviam apenas para cuidar da casa, dos filhos e dos mais idosos. Participar da vida política? Nem pensar! Se quer podiam votar até 1932.
A presença feminina nas esferas de poder público sempre teve caminho aberto a fórceps. Tivemos a primeira presidente brasileira eleita só em 2011. E apesar de representarmos 52,5% do eleitorado, em 2020 éramos apenas 33,3% do total de candidaturas para cargos eletivos.
O universo político ainda é dos mais machistas. Recentemente, o caso da deputada paulista Isa Penna ganhou as manchetes como sendo de assédio sexual, dentro do plenário da Assembleia Legislativa.
Motivadas pelo momento, deputadas federais consentiram em relatar episódios de assédio não denunciados. São elas: Tabata Amaral, Joice Hasselmann, Clarissa Garotinho e Áurea Carolina. Em matéria da Folha de São Paulo de dezembro de 2020, contam como se deram esses casos e também que não denunciaram por não haver testemunhas. Seria a palavra deles contra a delas e, pior, tinham certeza que nenhuma medida seria tomada no sentido de coibir os abusos.
Semana passada, mais especificamente na sessão do dia 04 de outubro, presenciamos uma infeliz demonstração de machismo na Câmara Municipal de Piracicaba. Não se tratou de assédio sexual, mas de puro desrespeito a uma mulher.
O que assistimos foram atitudes machistas, facilmente identificadas, pelo simples fato de tratar-se da vereadora Rai Almeida, fazendo uso da tribuna. O “macho alfa” da Casa a interrompia o tempo todo com ‘questões de (des)ordem’. Confundia seu raciocínio. Conturbava desnecessariamente o ambiente. Pior: o senhor presidente da mesa, com todo respeito, pouco ou nada fazia para evitar o constrangimento, permitindo que a vereadora concluísse sua fala.
Pessoalmente, em minha vida política, já fui alvo de situações semelhantes. Sei o quanto nos fazem mal. Aí me pergunto: até quando as mulheres desse país terão que tornar suas ações mais contundentes e assertivas para serem respeitadas pelos machos de plantão? Será que em pleno século 21 ainda seremos obrigadas a encarar o ranço do século 18?
Por favor, evoluam, senhores!
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