“Hoje será ontem / amanhã e amanhã / menos seremos”. (Mauro Mota)
Foi o regular retorno de alguns fenômenos naturais que forneceu ao homem a possibilidade de medir o tempo. Fases da Lua, dia e noite, o ritmo das estações propiciaram a possibilidade de dividir o tempo em dias, meses e anos. Chegar até nosso atual calendário foi um longo percurso, cheio de falhas e discordâncias de um povo para outro. A antiguidade conheceu várias eras: das Olimpíadas, dos Seleucidas, da fundação de Roma, da Hégira (fuga de Maomé), etc.
Nosso atual derivou do calendário Juliano, pois foi Júlio César que o instaurou nos domínios romanos, no ano 45 A.C.
Suas características eram: duração do ano solar em 365 dias e um quarto, duração do ano civil em 365 dias, intercalado de um dia de 4 em 4 anos, sendo chamado ano bissexto. Nele os meses eram divisões puramente artificiais e desconhecia-se a semana, só introduzida após a morte de César.
Como o calendário Juliano presumia uma exata duração do ano civil (365 dias e um quarto) e o ano trópico era, na realidade, mais curto, cerca de 10 minutos (365 dias 5hs 48’ 47’’) houve uma discordância cada vez maior conforme o tempo passava. Foi o papa Gregório XIII que, pela Bula Inter Gravíssima de 24 de fevereiro de 1582, reformou o calendário Juliano, transformando-o em Gregoriano: suprimia dez dias e três anos bissextos, corrigindo as imperfeições do ciclo de 19 anos.
Medir o tempo sempre foi uma das preocupações do homem. Não sabia ele que seria escravo do calendário e do relógio e também que sua lembrança entre os pósteros seria efêmera após sua morte. Isaac Peretz assim referiu-se ao relógio: “O mais cruel dos instrumentos… Quando precisamos de tempo para pensar, não quer esperar. Quando dormimos, anda depressa. Em nossa mocidade, quando corremos, ele se arrasta; em nossa velhice, quando nos arrastamos, ele corre”. Cassiano Ricardo nos lembra: “Diante de coisa tão doida / conservemo-nos serenos. // Cada minuto de vida / nunca é mais, é sempre menos. // Ser é apenas uma face do não ser, e não do ser. // Desde o instante que se nasce / já se começa a morrer”.
Nosso calendário é divido em meses, um deles, aquele em que estamos no momento, agosto, é considerado aziago.
Essa superstição vem da antiguidade e foi passada de geração em geração e de um povo para outro.
O nome agosto foi para homenagear o imperador Augusto, assim como Julho homenageia Júlio César. Os romanos, no entanto, achavam agosto um mês em que um dragão cuspindo fogo adejava pelas nuvens, no hemisfério norte. Na realidade o que viam era a constelação de Leão.
Em Portugal, as embarcações rumo ao grande oceano em busca de novas descobertas, costumavam sair em agosto, por esse motivo as mulheres evitavam casarem-se nesse mês, pois ficariam sem lua de mel, além do risco de ficarem viúvas, uma vez que, de cada três marinheiros que saíam apenas um voltava. Daí o ditado: Mês de agosto, mês de desgosto.
Na França, 24 de agosto é dia maldito, pois nesse dia em 1572, Catarina de Médici ordenou o massacre dos huguenotes (calvinistas). Também na Polônia ele não é bem visto, pois traz à lembrança a derrota dos poloneses para os russos, em 14 de agosto de 1831. No Japão, os bombardeios atômicos de Hiroshina e Nagasaki ocorreram em 6 e 9 de agosto, respectivamente.
Tem mais: 24 de agosto é o dia das sogras. Hitler assumiu o governo da Alemanha em 03 de agosto de 1932.
No Brasil, Getulio Vargas suicidou-se em 24 de agosto de 1954, desencadeando um longo período de descaminhos em nossa história. Mês do cachorro louco, das bruxas, da aviação, de maior agitação em quem tem problemas mentais, desorientação nas cobras, levando-as a atacarem sem motivo. Na África, 24 de agosto é o dia do demônio, de todos os exus. Como a China está na berlinda, lá a superstição está nos números: quatro é o associado à morte e desgraça, enquanto o oito tem a ver com felicidade e prosperidade.
O antídoto para agosto é usar a camisa no avesso, dizem os crédulos. Nosso atual Agosto está começando e nos mostra um panorama nada promissor.
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