Desde sempre, me ligo em cheiros. Tocam-me a alma profundamente. Um perfume marcante me faz seguir a pessoa, abordá-la e perguntar que marca é aquela, onde comprou. Uma vez, na igreja, sentou-se perto de mim uma moça de cabelos lavados. Ela tinha todo o jeito de quem acabara de tomar banho. Havia nela dois cheiros que se misturavam harmoniosamente: o do sabonete e o do perfume.
Louvando aos céus, assisti à missa sentindo aquele aroma suave e encantador. Era algo sublime. Terminado o santo ofício, ela passou por mim, para deixar o folheto na caixa e eu não resisti: moça, que perfume você está usando? Ela disse o nome, mas eu esqueci. Não tinha caneta na hora pra marcar e acabei esquecendo.
Cheiros me comovem. Aromas entram na minha alma de forma arrebatadora, como o perfume de rosas, por exemplo. Amo o cheiro de rosas! Os diferentes odores chegam até mim e cada um, na sua essência e particularidade, causa-me um tipo de reação. Identifico logo se o gás está vazando, se tem comida queimando no fogão, se há algo no ar que incomoda ou dá prazer.
A par desta sensibilidade em relação aos aromas, sou alérgica a certos perfumes que me dão dor de cabeça. Que tristeza quando ia ao cinema, à missa ou a algum evento social, e se acomodava próximo a mim alguém com um perfume extremamente enjoativo ou adocicado. Se há como mudar de lugar, mudemos.
O cheiro do nosso carro, depois de mandar lavar. Ou higienizar o ar condicionado. O cheiro do nosso armário de roupas. O cheiro do nosso cabelo, ao sair do banho, perfumado de creme. O cheiro da nossa pele, depois de passar o hidratante amado.
Ah, quando vai chegando a hora do almoço, é um deleite a comida sendo feita em casas próximas da minha. O cheiro de alho e cebola refogados, certamente para o abençoado arroz e feijão de cada dia, invade os ares amorosamente. Carnes assadas também exalam um aroma maravilhoso no ar. Mas nada se compara aos assados natalinos. O cheiro deles me faz levitar.
Cheiro da casa limpa, depois da faxina. Não é extasiante? Aquele cheirinho bom do desinfetante no banheiro, o perfume do que se usou para passar no chão, para limpar a cozinha. E o cheiro da roupa recolhida do varal, que secou na manhã inundada de sol? Os lençóis dobrados e guardados com carinho? E depois, quando estendemos na nossa cama, o perfume escapando pelas fronhas? Ah, quanta gratidão por isso tudo!
O cheiro da pessoa amada!… Que lembranças temos dela? Sim, o cheiro do corpo, cheiro da roupa, do perfume usado a vida toda. Uma mistura inesquecível, amálgama impregnado de infinita saudade. Às vezes, sentimos seu perfume ao nosso lado. E nos encantamos com as delicadezas de Deus.
Mas há um cheiro inconfundível: o cheiro da vida. Aquele aroma sentido em cada momento na casa onde moramos. O cheiro do que nos comove e nos emociona. Destaco alguns: o das nossas toalhas de mesa, o cheiro do armário onde guardamos o pão, as bolachas e as guloseimas. O cheiro do sabonete preferido e o cheiro que sobe do jardim recém-regado.
Peço a Deus que eu seja uma velhinha sempre bem cuidada e cheirosa. Que eu tenha sempre um perfume de rosas exalando de minhas mãos…
LEIA MAIS