25 de dezembro de 2024

A esperança 2

Por José Faganello |
| Tempo de leitura: 2 min

“Tens de acreditar que os ventos soprarão, / crer na grama nos dias de neve. / ah! É por esta razão que o pássaro pode cantar: / em seu dia mais escuro, acredita na primavera” ( Douglas Malloch ).

Assim como as caravelas dos descobrimentos necessitavam do vento, o desejo e a esperança são itens necessários para a viagem da vida. Anatole France afirmou que as promessas custam menos que os presentes, mas valem muito mais. Nunca se dá tanto, como quando se dá esperança. Ela está sempre em nossas mentes, fazendo-nos desejar a felicidade dificilmente encontrada. De engano a engano, prosseguimos em sua busca. Na meninice, em nossos folguedos de “faz de conta”, comportamo-nos como se nossas fantasias fossem realidades; a mocidade, com seu hipnótico brilho, transformam-nos em poetas e arquitetos de mirabolantes planos; no leito de morte, agarramo-nos à vida até o último instante, nós e aqueles que de fato nos amam. No sepulcro, entretanto, o esquecimento costuma ser o acompanhante assíduo dos que neles estão sepultados.
Os mais esperançosos costumam ser aqueles que estão nas piores situações, nos momentos mais difíceis. Para eles, a esperança torna-se sua razão de viver e continuar lutando. Se analisarmos bem nossa vida, na realidade não é um caminhar de prazer em prazer, nem de um sofrer a outro, e sim de esperança em esperança.
Com certeza está aí o segredo do político de sucesso. Ele sabe que é mais fácil conseguir votos prometendo esperanças do que realizando obras. A esperança é mais forte do que a gratidão.
Aqueles que não entendem como se pode encontrar alegria em tugúrios e não nos palácios, deveriam saber que aqueles que nada têm podem abarcar uma esperança muito maior, e ela, para eles, torna-se a melhor coisa da vida. Não que nos palácios não possa haver esperança, aliás, abundam exemplos de reis, nos quais a exacerbada esperança os transformou em deuses.
Infelizmente, os sensatos não podem degustar deste prato. Eles sabem que nossa breve vida proíbe-nos de alimentar exagerada esperança, como advertia o magistral poeta Horácio. Francis Bacon, por sua vez, alertou-nos que ela é um bom desjejum, mas um mal jantar.
Deve ser terrível quando ela abandona alguém totalmente, a ponto de fazê-lo exclamar como Julieta de Shakespeare: “Nem esperança, nem socorro, nem remédio”.
Nós, brasileiros, nestes 521 anos nada mais fizemos do que esperar dias melhores. Cada dia que passa, aguardamos o despertar deste “gigante deitado eternamente em berço esplêndido”. O quase inaudível barulho para despertá-lo (greves com vergonhosa adesão e protestos abafados) mostra-nos que a maioria acredita que esperar é melhor do que lutar para conseguir. O sonho seduz mais do que a realidade.
Esta devastadora Pandemia está ceifando em todos os lugares do nosso Planeta, Tem os que acreditam que assim mesmo a situação possa mudar sem luta, para não se desesperar, recite todos os dias os versos de Douglas Malloch.

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