A ideia de que o homem tem mais força ou habilidade para determinados trabalhos em relação às mulheres tem sido cada vez mais ignorada. Hoje, elas ocupam todas as áreas, incluindo aquelas que, no passado, eram dominadas só pelos homens. São motoristas, pedreiras, mecânicas, frentistas, bombeiras.
Silvana Aparecida Gonçalves da Rosa, 47 anos, exerceu várias funções até se tornar mecânica de trator. “Sempre trabalhei em fábrica, mas em 2010 fui contratada por uma empresa aqui da cidade [Piracicaba], onde comecei a exercer a função de mecânica de trator. Nunca tinha trabalhado nessa área. Me profissionalizei na empresa, onde exerci a função por dez anos”, afirmou.
Ela disse que sempre gostou muito do trabalho apesar de ser uma profissão um pouco pesada. “Ás vezes causa espanto por ser uma função pouco exercida por mulheres, mas é muito satisfatória. No começo, éramos poucas, mas depois a empresa foi contratando mais mulheres para essa função”, comentou.
Silvana acredita que atualmente existem muitas mulheres nessa profissão, porém, poucas reconhecidas. “Ainda existe muito preconceito. Existem muitas profissões que podemos executar tão bem como os homens, mas o público masculino tem preferência”, declarou.
De acordo com dados do estudo “Estatística de gênero: indicadores sociais das mulheres do Brasil”, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mulheres trabalham, em média, três horas a mais por semana que homens. Apenas 39,1% dos cargos gerenciais são ocupados por elas – e o número diminui ainda mais conforme aumenta a faixa etária.
Mesmo a maioria delas com ensino superior completo (23,5%), em relação aos homens (20,7%), as mulheres têm um rendimento menor, comparado a eles, ainda que exerçam a mesma função. Isso significa que elas têm um salário habitual médio mensal de todos os trabalhos no valor de R$ 1.764, enquanto os homens recebem R$ 2.306.
Quando tirou a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), aos 18 anos, Valdirene Valota Ribeiro Rosada, hoje com 51 anos, não imaginava que um dia se tornaria motorista de ônibus.
“No ano de 2004, estava fazendo caminhada em uma área de lazer quando me deparei com uma motorista mulher dirigindo um ônibus de turismo. Fiquei encantada e falei pra mim mesma: ‘se ela pode, também posso’. Foi quando dei entrada na habilitação profissional”, recordou.
Em agosto do ano seguinte ela começou a trabalhar em uma empresa de transporte coletivo. “Em todo meu tempo como motorista de ônibus não tive nenhum constrangimento da parte dos homens nem de mulheres. Sempre fui respeitada e elogiada”
Mulheres empoderadas – No ano passado, mulheres de Piracicaba se uniram e criaram um grupo no WhatsApp intitulado “Mulheres Empoderadas”. A iniciativa surgiu com o fechamento de estabelecimentos comerciais em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
“As pessoas precisavam comprar, vender, mas ainda não sabiam como. Geralmente, quando se pede indicação de algum serviço, um homem é recomendado. Mas muitas mulheres perderam o emprego durante a pandemia. Esse grupo surgiu com o objetivo de ajudarmos umas às outras”, explicou uma das administradoras, Ana Lima.
O grupo reúne cerca de 150 mulheres. “São vendedoras, prestadoras de serviços e consumidoras. É um grupo bem ativo. A ideia era criar uma rede para nos fortalecer e deu certo”.
Ana Carolina Leal
ana.carolina@jpjornal.com.br
LEIA MAIS: