"Tendo escutado deles essa definição, imediatamente assumi a culpa. Sabia que estava em terreno seguro, mostrando a eles que ninguém consegue realmente viver todos os seus ideais, traduzir suas intenções para ações de modo perfeito. Depois apontei ainda um segundo significado para falso como sendo aquilo que a pessoa não pratica porque não acredita no que prega. Com relação a isso me declarei inocente. Tendo estancado a hemorragia com uma precisão cirúrgica, dispensei minhas vítimas. Logicamente, percebi que tinha sentido uma raiva enorme e sido muito injusto por causa dessa raiva.
Este é o momento crítico. O único erro verdadeiro é aquele com o qual nada se aprende. Depois de um encontro como esse que descrevi, há duas opções. Pode-se 'bufar de raiva', acusando esses meninos de estúpidos e ingratos, ou olhar para dentro de nós mesmos à procura de uma razão para as emoções sentidas. Essa é a diferença fundamental entre uma pessoa que está crescendo e uma que não está, entre a autenticidade e a auto ilusão. Pelo menos nessa ocasião escolhi crescer e ser autêntico. Olhei para dentro de mim mesmo e escutei cuidadosamente a raiva que pouco a pouco se acalmava. E descobri que ela vinha de um medo profundo que eu pudesse ser, talvez, um falso, mesmo no segundo sentido. Eu podia reagir com tranquilidade a uma acusação de sadismo, perversidade ou megalomania. Mas a acusação de falsidade me tocava num terminal nervoso exposto. Algumas vezes tenho medo de saber falar muito melhor do que de saber viver, realmente, e com o consequente medo de não acreditar inteiramente no que prego. Desculpei-me com os alunos, admitindo a eles a fonte de minha raiva e explicando-lhes o que tinha descoberto a meu próprio respeito.
Estou dizendo, que já há alguma coisa em nós que explica nossas reações emocionais, mas isso não quer dizer que essa coisa seja má ou lamentável. O medo que tenho de ser incoerente quanto ao que falo e ao que vivo não é mau ou lamentável. Isso sou eu. Da mesma maneira posso ficar com raiva ao ver alguém agredindo uma vítima indefesa e verificar que a fonte de minha raiva, essa coisa que está dentro de mim, é um senso de justiça saudável e uma compaixão ativa por quem está sofrendo.
O importante é saber que cada reação emocional nos diz alguma coisa a nosso respeito. Precisamos aprender a não responsabilizar outras pessoas por essas reações, acusando-as ao invés de aprender alguma coisa sobre nós mesmos. Quando reajo emocionalmente sei que outras pessoas não reagiram como eu. São pessoas diferentes, com necessidades diferentes. Nem todo mundo tem as mesmas emoções armazenadas que eu tenho. Lidando com várias pessoas, percebemos uma grande variedade de reações emocionais. Elas tiveram passados diferentes e estão tentando alcançar objetivos diferentes. Assim suas reações emocionais são diferentes por causa de alguma coisa que está dentro delas. O máximo que posso fazer é estimular essas emoções. Da mesma maneira, se quero saber alguma coisa a meu próprio respeito, a respeito das minhas necessidades, minha autoimagem, minha sensibilidade, minha programação psicológica, meus valores, preciso escutar cuidadosamente as minhas próprias emoções". (CONTINUA)