Hoje apresento pra vocês uma reflexão interessante e muito importante da médica e amiga Dra. Juliana Barbosa Previtalli, cardiologista, Diretora Científica da Regional Piracicaba da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), também idealizadora da “Paradas pro Sucesso”, excelente campanha antitabagismo que está maciçamente sendo veiculada na cidade com o apoio dos artistas locais, imprensa e a mídias em geral. Então, vamos lá! Acompanhem o que ela nos diz:
“Em 2020, a pandemia de covid-19 colocou o mundo em alerta máximo. A comunidade científica global corre contra o tempo para identificar vacina e tratamento eficaz.
Já o tabagismo é considerado pandemia desde 1986 e anualmente mata 7 milhões de pessoas. Esse número pode piorar diante da covid-19. Os fumantes apresentam risco duas vezes maior de internações em UTIs, de necessitar de ventilação mecânica e de evoluir para óbito, se comparados a não fumantes infectados.
Doenças associadas ao tabagismo como câncer, doenças cardiovasculares, enfisema e diabetes também oferecem maior risco para as complicações da covid-19. Substâncias tóxicas do cigarro enfraquecem o sistema imunológico tornando os fumantes mais vulneráveis às infecções. Há o dobro de risco de contrair Influenza e quatro vezes mais risco de contrair a tuberculose que os indivíduos não fumantes. Isso se deve a uma confluência de fatores, desde alterações das defesas estruturais a mecanismos imunológicos. A fumaça do tabaco e muitos dos seus componentes produzem alterações estruturais nas vias aéreas: aumento na permeabilidade da mucosa, comprometimento da defesa mucociliar, alterações na aderência de microorganismos, interrupção do epitélio respiratório, fibrose e inflamação. Os mecanismos imunológicos seriam a redução da produção de anticorpos, que são nossas células de defesa.
A covid-19 pode evoluir para um quadro intenso de hipóxia (má oxigenação do sangue), lesões nas paredes internas dos vasos sanguíneos, inflamação e formação generalizada de trombos. O mais preocupante é que o fumante apresenta essas alterações de forma crônica, o que o colocam em desvantagem.
Os fumantes são mais vulneráveis à invasão do vírus nas células. A toxicidade do cigarro aumenta a expressão da enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE-2) na membrana celular, especialmente dos pulmões. É exatamente na ACE2 onde o vírus se encaixa para invadir as células e se multiplicar. Ao deixar de fumar, a expressão da ACE2 tende a normalizar. Após oito horas desaparece a hipóxia, em cerca de 24 horas ocorre a recuperação das lesões dos vasos sanguíneos e, após duas semanas, a coagulação sanguínea retorna ao normal.
Anualmente o Brasil enfrenta 157 mil mortes precoces e um custo de R$ 57 bilhões com doenças tabaco relacionadas. Ao aumentar a pressão por leitos de UTI e ampliar gastos com equipamentos e insumos necessários para o enfrentamento do Covid-19, o tabagismo ampliará mais ainda essa grave crise sanitária e econômica.
A covid-19 está hoje no centro das atenções por razões óbvias. Uma outra pandemia, a do tabagismo, também deveria ter a minha e a sua atenção”.