21 de dezembro de 2024

Preconceito sem fundamento

Por Ana Pascoalete |
| Tempo de leitura: 2 min

Os idosos, principalmente nas maiores cidades, que precisam sair às ruas por necessidades diversas durante esse período de pandemia estão relatando a necessidade de enfrentar olhares de reprovação, com comentários maldosos, de pessoas mais jovens, que julgam que essas pessoas de 60 anos ou mais deveriam estar em casa. A atitude parte do princípio de que a covid-19 se manifesta de forma mais grave nesses indivíduos.

Muitas dessas situações de indignação mediante a presença de idosos nos transportes públicos, supermercados, farmácias, seriam por desejo de protegê-los do contágio do novo coronavírus, ou uma maneira de demonstrar preconceito? Muitos olhares tortos e discursos inconformados podem ser considerados a expressão de sentimentos que nossa sociedade, em momentos de não pandemia, procura abafar o preconceito dos idosos.

Porém, não estamos vivendo tempos conforme habitualmente acostumados, e a pandemia pode estar contribuindo com a identificação de que o lugar das pessoas idosas é em casa e não nas ruas, fazendo valer seu direito de exclusividade em filas, assegurados por lei e executado na maior parte dos estabelecimentos, ou aposentados dos ambientes de trabalho, para suas vagas serem ocupadas por indivíduos mais jovens.

Claro que no momento atual, quando os idosos que estão nas ruas são questionados por não estarem em suas casas, pode ser com a intenção da preservação da saúde. Porém, também pode representar que o idoso não tem o discernimento para atuar com suas próprias decisões, sobre o que é certo ou não fazer, e ainda questionar a autonomia do idoso do direito de interromper ou não o isolamento social, como sugestão para permanecer em suas casas.

Entendo nessa atitude algo muito semelhante com os profissionais da linha de frente atuantes na área da saúde, que também têm sido tratados neste período de pandemia com grande desconfiança por parte da população quando estão nas ruas, a caminho de seus trabalhos, como se fossem os grandes proliferadores da contaminação do coronavírus.

Assim, ambos estão constantemente visados como grupo de risco e potenciais transmissores da covid-19. Claro que esses pensamentos, que podem ser reproduzidos em olhares ou discursos de indignação, também demonstram além do preconceito, o medo, ansiedade e pânico que a pandemia estimula a repercutir nas pessoas.

É necessário uma reflexão, para que esse momento não estimule um sentimento aflorado contra os indivíduos da terceira idade e profissionais da área da saúde. Esta é uma grande oportunidade de aprendizado e fortalecimento enquanto indivíduos, para que se evite julgamentos que podem promover sofrimento. Essa batalha contra o preconceito precisa ser enfrentada, para ser vencida, pois a diversidade nas escolhas humanas precisam ser respeitadas, sempre e em qualquer situação.

Temos enfatizado tanto as diferenças e complicado a prática da igualdade como direito fundamental entre os humanos. Não podemos perder de vista as nossas igualdades em meio as diferenças, pois as diferenças é o que nos caracterizam como humanos, no entanto nossa maior dificuldade ainda é quando agrupamos as pessoas pelas semelhanças e atribuímos juízos de valores baseadas em crendices sem fundamentos.