25 de dezembro de 2024

Na passagem de janeiro

Por Marisa Bueloni |
| Tempo de leitura: 3 min

O ano começa. Ainda tem gente na praia, aproveitando a segunda quinzena do mês, que ninguém é de ferro. Ah, férias adoradas! Seja onde for, são bênçãos dos céus! Feliz de quem pode desfrutar delas, seja no campo, na montanha, na praia, numa cidadezinha quieta, perdida no tempo.

Férias têm gosto de mel. Delas escorre uma doçura, uma calmaria, um poema. Quando ouço alguém dizer “vou entrar de férias”, eu também entro, fico imaginando o que esta pessoa vai fazer. Viajar, ou ficar em casa de pijama o dia inteiro, lendo, deitada na rede, vendo Netflix sem parar, dormindo todas as tardes, saindo para beber à noite.

Cada um tem seu jeito de curtir as férias. Para mim, tem de ser perto do mar, mês de janeiro abençoado, o sol brilhando, a areia queimando os pés, tem de usar o chinelo de dedo pra ir até ali. Ali é onde mora a beleza, com cheiro de maresia e conchas adornando a paisagem marinha.

Por que a baleia encalhou naquela praia? Veio se alimentar de algo, haveria muito lixo nos oceanos? E o navio que afundou e está lá até hoje, ninguém mexeu. E o pescador que viu uma coisa estranha emergindo das funduras, numa noite com o barco no mar. A criatura mergulhou de volta e deixou o mundo ainda mais misterioso.

A gente anda pela cidade praiana e há âncoras nas lojinhas, peixes coloridos enfeitando as paredes, estrelas do mar, um polvo brincalhão piscando um olho. Vó, você viu? Vi sim, meu anjo. Vi o polvo, vi a sereia, vi um navio (e la nave va…) cortando a superfície aquática, levando uma multidão de sonhadores, gente que gosta do mar.

Eu gosto do mar. Água quase na cintura, tá ótimo. Não me arrisco mais que isso. Tão bom deixar as ondas passarem pelo nosso corpo, “tomar um caldo”, esse banho curativo, que renova o corpo e a alma! Ah, mar! Um dia conseguirei comprar a casinha de varanda, na beira de uma praia deserta, para ouvir os peixes ovulando debaixo d´água?

Se alguém tem alguma decisão importante a tomar, que seja em janeiro. O mês é propício. O ano tem início e pode-se dar cabo de algo que vem emperrando a vida há anos. Bom começar 2020 com alguns problemas resolvidos, o caminho mais livre, os passos mais seguros, sem grandes certezas, mas com a fé na palma das mãos.

É janeiro. Aproveite este mês híbrido, que não é de trabalho propriamente, mas nem só de férias eternas. Logo vem o Carnaval. Depois a Quaresma. Em seguida, a Páscoa. Abril há de nos encantar? Maio é o mês de Maria, eu amo rezar o terço. Junho tem festa junina. Julho tem gosto de férias em São Paulo, Neusa e eu na casa da minha madrinha tia Anita. Infância sagrada.

Depois de julho, o frio logo acaba e setembro traz uma nova primavera ao nosso coração. As manhãs de setembro nos pegam no colo e nos consolam de qualquer dor. Você já superou uma dor em setembro? Eu superei uma em janeiro. E tomei a decisão certa. Chorei, mas valeu a pena.

Deixa o ano correr, que no final é Natal de novo e vemos que o ciclo da vida é belo, só acaba pra quem morre. No ano 2000 o mundo ia acabar. O mundo ainda não acabou. Passa, passa bom barqueiro, passa, passa janeiro!…