15 de dezembro de 2025
Projetos Especiais

A hora e a vez das startups

Por Paula Maria Prado @paulamariaprado |
| Tempo de leitura: 8 min
Sala do Empreendedor

Uma ideia na cabeça, espírito empreendedor e muita fé. Se nos últimos anos São José dos Campos se firmou como uma cidade industrial, começam a se destacar no mercado local as chamadas “startups”, empresas com base tecnológica recém-criadas e que em um curto espaço de tempo pode chegar a valer milhões.

E, graças aos centros de pesquisas e diversas universidades que temos por aqui, o município se tornou interessante para novas apostas. É difícil mensurar os números com precisão, uma vez que todos os dias surgem novas startups, mas a ABStartups (Associação Brasileira de Startups) estima que o Estado de São Paulo já ultrapassou o número de 1.000, e, segundo a prefeitura, cerca de 100 delas estão em São José.

“Só no Parque Tecnológico há mais de 20. Algumas já ganharam tração, outras ainda estão crescendo. Por estarmos em um centro tecnológico, já podemos observar um ecossistema de empresas interessantes”, afirmou Luis Paulo Loreti, diretor da Secretaria de

Inovação e Desenvolvimento Econômico.

Segundo Alexandre Barros, gestor de empreendedorismo e inovação do Parque Tecnológico, um dos fatores que contribuem para a movimentação é o fato de São José ter um histórico intenso em termos de desenvolvimento tecnológico e inovação. “Outros fatores importantes são a localização geográfica de São José, considerando a proximidade com São Paulo, o dinamismo econômico e o adensamento populacional do Vale do Paraíba”, avalia.

JUVENTUDE.

Os responsáveis por essa movimentação no mercado são jovens da chamada geração Millenium, que têm hoje entre 18 e 35 anos. “Uma das características dessa geração é a realização de propósitos, ou seja, criar negócios com os quais se identifiquem, gerem valor e impactem a vida das pessoas e da comunidade onde estão inseridas”, explicou Agliberto Chagas, coordenador da Fatec São José dos Campos e um dos idealizadores do curso “Escola de Inovadores”, oferecido pela instituição.

Ou seja, jovens, antes orientados pelos pais a procurar emprego e garantir os benefícios da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), hoje buscam trabalho. Em sua maioria, as startups, aliás, apostam em oferecer produtos e serviços para outras empresas, num modelo de negócios conhecido como B2B, nesse ponto a cidade leva também a melhor, dada vocação como polo de criação e desenvolvimento de negócios com base no desenvolvimento tecnológico e na inovação.

Entre os mercados mais explorados no país estão os de aplicativos, no topo da lista, e em segundo lugar educação, depois áreas midiáticas e comércio eletrônico.

“Há um fator que precisa ser evidenciado: startups não são novidades em São José. A incubadora da Univap (Universidade do Vale do Paraíba) foi criada em 1999; a Incubaero, em 2004, e a hoje Incubadora do Parque Tecnológico, em 2005. Ou seja, ainda nem se falava em startups no Brasil e São José já criava u m a mbiente propício para o surgimento de pequenas empresas de base tecnológica”.

INCENTIVO.

Atualmente, as pequenas empresas são responsáveis por mais de 90% dos empregos gerados no Brasil. E, de olho nesse dado, a prefeitura tem investido no projeto “Startup São José”, com mecanismos de atração desses novos investidores.

“Nós já temos uma base tecnológica forte nos setores da aeronáutica, espacial, defesa... Só faltava um apoio da prefeitura para as startups”, afirmou Loreti.

Em um primeiro momento, inspirado no campus do Google em São Paulo, a secretaria pretende criar um espaço para acelerar empresas. “Não chega a ser uma incubadora. Nossa ideia é ajudar as empresas a crescerem, da fase inicial, modelo de negócios e testes, até o aporte do primeiro ‘anjo’ (investidores que buscam variar seu portfólio e investem em empresas cujas taxas de retorno são altas)”, explicou. O espaço será montado no Parque da Cidade.

Também está em estudo a Lei de Inovação, com mecanismos que facilitem a vinda dessas empresas para a cidade. Nesse caso, uma das preocupações é minimizar trâmites burocráticos na abertura de novas empresas. “Claro que não há como fugir daquilo que é definido no âmbito municipal, estadual e federal, mas já estamos debatendo, inclusive com startups, formas de minimizar a burocracia”, disse o diretor.

“Hoje, startups de baixo impacto – que vai funcionar em um escritório, não tem grande volume de pessoas - já podem ser abertas em três dias. Há cerca de um mês reestruturamos a Sala do Empreendedor de forma a simplificar os processos. Já o projeto e a lei, a expectativa é que sejam colocados em prática neste segundo semestre”, disse o diretor.

PONTOS CRÍTICOS.

Para se tornar interessante ao mercado, uma startup precisa de um plano de negócios bem ajustado e transparente. E os fatores críticos encontrados são, segundo Chagas, o “valor que ela esta ofertando ao mercado e a profissionalização de seu quadro de funcionários, que geralmente é composto por seus próprios sócios”. “Um fator que pode acelerar o crescimento de startups é o agravamento da crise econômica e do desemprego”, completou.

“Por serem enxutas, essas empresas podem correr mais riscos. Mas também podem ser mais ágeis, sem a burocracia das grandes corporações. Com isso, elas podem iniciar, desenvolver e concluir um processo com rapidez”, afirmou Barros. “Tanto é assim, que as grandes empresas estão cada vez mais investindo no relacionamento e na aproximação com startups quando querem chegar a soluções inovadoras em curto prazo”.

Entre as empresas de destaque desse ambiente nos últimos anos estão Agronow, Justto e Q-Mágico. Conheça a seguir um pouco sobre cada uma delas.

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Agronow

Fundada em 2015, a empresa iniciou as atividades em fevereiro de 2016 ainda com endereço em São Paulo. E, em julho, transferiram a sede para São José. “Começamos com um funcionário e hoje temos oito na cidade e mais quatro prestadores de serviços na Argentina”, afirmou Antonio Morelli, CEO da Agronow, empresa que mapeia e projeta a produtividade agrícola de uma área.

“Criamos a Agronow para que qualquer proprietário rural tenha acesso a dados relevantes, promovendo a inclusão tecnológica, independentemente de seu poder aquisitivo ou o tamanho da sua propriedade”, explicou Morelli. “Colocamos o monitoramento por satélites sobre o sítio, fazenda ou região de interesse do usuário ao alcance de um clique. Queremos ajudá-lo a cultivar o futuro e colher os benefícios da antecipação de informações essenciais ao planejamento e gestão em todos os níveis do agrobusiness”.

As operações comerciais da empresa começaram em novembro de 2016, gerando cerca de R$ 50 mil de faturamento e, para o ano de 2017, a estimativa é chegar ao primeiro R$ 1 milhão.

Há ainda uma estratégia traçada para a internacionalização da marca, com escritório na Argentina e foco no crescimento em direção ao restante da América do Sul e dos Estados Unidos.

Q-Mágico

Uma vez que somos todos diferentes, aprendemos também de forma diferente. Alguns alunos são mais visuais, enquanto outros preferem ler. E foi pensando em uma forma de ajudar a todos que o engenheiro mecânico-aeronáutico e professor Thiago Feijão criou a Q-Mágico, em 2012.

Seu plano é unir tecnologia a educação de forma a transformar a maneira como aprendemos e ensinamos, conectando pessoas e facilitando novas práticas.

“Nossa visão é personalizar a aprendizagem dos alunos de educação básico do país por meio do respeito à filosofia pedagógica de cada escola”, afirmou Nando Rodrigues, responsável pelo marketing da empresa. “Acreditamos que o papel do professor vai continuar sendo essencial mesmo com todas as transformações nos processos de ensino. Mas a tecnologia tem como papel trazer eficiência para as rotinas de estudo por meio da personalização; utilizar inteligência de dados para garantir qualidade e impacto real na aprendizagem dos alunos e facilitar o compartilhamento e curadoria de conteúdos e de boas práticas pedagógicas entre escolas e professores”, continua.

A meta é ambiciosa: a equipe quer em três anos ter a maioria das escolas privadas na rede.”Nós nascemos de ONGs da região, como o CASD Vestibulares (Curso Alberto Santos Dumont), iniciativa pré-vestibular do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), e o Casdinho.

Acreditamos que não é possível construir uma empresa sustentável sem ter como critério de sucesso o impacto social que ela causará”.

Justto

Foi com o objetivo de resolver a ineficiência da resolução de conflitos no Brasil, especialmente no judiciário, que os advogados Michelle Morcos e Alexandre Viola criaram, em 2012, a Justto, eleita pelo movimento “Open Startup” como uma das 100 startups mais atraentes e interessantes para empresas líderes em inovação.

O primeiro produto: a Arbitranet, que tem o intuito de resolver conflitos B2B e do ramo imobiliário. “A arbitragem é permitida por lei, mas sua utilização ainda é tímida no país (as câmaras de arbitragem tradicionais costumam cobrar muito caro e, às vezes, são quase tão burocráticas quanto o próprio judiciário)”, afirmou Michelle. Com a proposta, a resolução pode ocorrer em até 100 dias e de forma on-line.

Há ainda o produto “Acordo Fácil”, focado em conflitos entre empresas e consumidores e entre empresas e seus empregados. “Toda inteligência dos nossos produtos, que possibilita essa evolução na forma de resolver conflitos, é permitida por meio do nosso robô: o Jusbot. Com machine learning e inteligência artificial, o treinamos para identificar os conflitos e sugerir a melhor forma de solução entre as partes”, explicou.

No ano passado, a taxa de crescimento da empresa, que foi acelerada pela ACE, foi, em média, de 30% ao mês. Em novembro, o índice chegou a 89%. “Nós atacamos um problema real, que permeia o dia a dia das empresas e das pessoas no geral. No começo, nós não tínhamos ideia que éramos uma startup. Nós éramos apenas dois advogados querendo revolver um grande problema”, disse a sócia-fundadora.

“Além disso, o mercado jurídico é um dos segmentos mais tradicionais. Tudo é feito de forma extremamente artesanal e manual. Trazer tecnologia e análise de dados para essa área é, não só imprescindível, como inevitável. E os advogados e escritórios que não se modernizarem e se associarem com as ‘legaltechs’, vão ficar para trás”, conclui.