29 de novembro de 2024
Ideias

um ano em que erramos quase tudo como país

Por Julio CodazziJornalista, editor-executivo dos jornais OVALE e Gazeta de Taubaté |
| Tempo de leitura: 2 min

No dia 11 de março de 2020, data em que comemorei meu aniversário de 38 anos, uma palavra entrou de vez em nossa rotina (que aliás, depois disso já não é mais a mesma): pandemia. O termo, de origem grega ('pan' é 'tudo, todos'; e 'demos' é 'povo'), ainda nem parecia capaz de representar todo o sofrimento que viria na sequência.

Quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou a situação do coronavírus como uma pandemia mundial, o perigo da doença ainda nem era conhecido por aqui. Naquela data, embora a Covid-19 já tivesse atingido 118 países, com 121 mil infectados e 4.300 mortos pelo mundo (a maioria na China e na Itália, até então), o Brasil somava apenas 52 casos positivos, 876 suspeitos e nenhum morto. Nenhum morto!

Por mais que o problema fosse mundial, o Brasil estava em uma situação até privilegiada, pois tivemos alguns meses para observar como a doença se alastrava por outros países e pudemos ver o que dava certo e o que não funcionava na tentativa de frear o vírus. Tínhamos a faca e o queijo na mão, mas os números registrados um ano depois mostram que, governado por um incompetente, o Brasil foi incapaz de seguir os bons exemplos - e, infelizmente, se tornou o pior exemplo de combate à doença.

Um dia antes de a pandemia completar um ano, o Brasil já era o país que mais registrava mortes diárias pela Covid-19. Em 10 de março, foram 2.286 vítimas por aqui. Mais do que a soma do segundo (Estados Unidos, com 1.343 mortes) e do terceiro colocados (México, com 866). Nesse mesmo dia, a Ásia, que abriga 4,6 bilhões de pessoas, contabilizou 801 mortes. Ou seja, com 5% da população do continente asiático, o Brasil, que tem 210 milhões de habitantes, registrou bem mais do que o dobro de mortes.

Para quem acompanhou o que aconteceu no Brasil nesses 365 dias, e principalmente o que deixou de ser feito por aqui, essa triste situação atual não é nenhuma surpresa. Se um político como Jair Bolsonaro seria incapaz de guiar a nação em tempos normais, imagina então numa pandemia. Ele é, sem dúvida, o maior responsável pelas milhares de mortes diárias no país. Bolsonaro zombou da doença, aglomerou, promoveu medicamentos ineficazes contra a Covid-19, não comprou vacinas, espalhou informações falsas e muito mais. Mas, embora seja o principal, ele não é o único culpado. Governadores e prefeitos que, por cálculo político, retardaram a adoção de medidas de isolamento social também são responsáveis pelo que ocorre hoje no Brasil. Além, é claro, da parcela da população que descumpre orientações sanitárias.

Nesse aniversário de 39 anos, que eu nem pude comemorar, meu desejo é que os próximos 365 dias sejam de mudança de rumo no país. Um futuro diferente para o Brasil seria meu melhor presente..