Eu ingressei no jornalismo, como uma profissão, no início da década de 2000. Mas minha relação com essa arte de contar histórias começou bem antes. Tendo um pai jornalista, era natural que o tema fizesse parte da nossa rotina, embora nós dois nem morássemos na mesma cidade. Eu não me lembro de como foram as primeiras conversas sobre o trabalho dele, mas me recordo que as histórias sobre um caso me marcaram bastante: o famoso 'Caso Marco Aurélio', como ficou conhecido o sumiço de um escoteiro de apenas 15 anos no Pico dos Marins, em Piquete, em 1985. Meu pai, então nos seus primeiros anos de profissão, trabalhou na cobertura dessa história.
Em 2005, passados 20 anos, era eu quem dava os primeiros passos na profissão. Trabalhava em uma emissora de TV, e em uma das pautas eu precisava conversar várias vezes com um senhor, também jornalista, que morava em São Paulo. Ele fazia parte da organização de competições de tênis que eram realizadas em Campos do Jordão, e que tinham cobertura da TV. As conversas com esse senhor eram bem agradáveis. Era aquele tipo de pessoa extremamente educada, bem-humorada, que passava leveza. Certo dia, ele disse que precisava me passar uma sugestão de reportagem, mas sobre um tema que não era ligado às competições de tênis. E me falou algo como: "Você que é mais novo talvez não saiba da história, mas um escoteiro desapareceu nos Marins em 1985 e nunca mais foi visto. Ele é meu filho, e eu o procuro há 20 anos". Foi ali que descobri que o Ivo Simon, aquele senhorzinho simpático com quem eu conversava por telefone, era o pai do Marco Aurélio. A reportagem sugerida por ele foi feita, com minha ajuda na produção, e exibida no Fantástico. Me recordo que alguns colegas de trabalho até estranharam o fato de um jornalista de 23 anos, recém-formado, ser tão familiarizado com um caso que havia ocorrido apenas três anos depois dele nascer.
Semanas atrás, os relatos sobre o Caso Marco Aurélio voltaram à tona. Primeiro, com boatos que, posteriormente, foram desmentidos. Mas, como mostramos nos últimos dias (e também nessa edição), havia um fundo de verdade no que se falava, e o inquérito sobre o desaparecimento do escoteiro será reaberto.
A princípio, a Polícia Civil vai trabalhar com duas linhas de investigação: uma das hipóteses é que Marco Aurélio tenha sido morto e enterrado na propriedade em que o grupo de escoteiros acampava; a outra, baseada em informações levantadas por uma apuração paralela feita por parentes e amigos da família, é de que ele ainda possa estar vivo.
Que, dessa vez, nós jornalistas possamos escrever o último capítulo dessa história. E que seja um final feliz. O seu Ivo, hoje com 82 anos e ainda muito simpático, merece..