Roupas típicas, utensílios e instrumentos de trabalho compõem o acervo do Museu do Tropeiro Vale das Tropas, de Guaratinguetá. São mais de 2.000 peças, a maioria guardada pelo comerciante e fazendeiro Wellington de Faria Galvão, 40 anos, que carrega consigo desde criança a paixão pelo campo.
Foi, aliás, dele que partiu a ideia de criar um museu dedicado à cultura tropeira. "Somos do meio rural e desde criança sou apaixonado pelo tropeirismo. Conversei com peões antigos e tropeiros para aprender o que eles tinham para ensinar. Daí foi surgindo meu gosto por tralhas antigas e tudo o que remete ao assunto", contou.
Intimamente ligado à expansão cafeeira e ao desenvolvimento do Vale do Paraíba no século 19, os tropeiros, além de condutores de tropas de burros e mulas, eram também comerciantes e representavam grande importância no transporte de mercadorias e comércio de animais e alimento.
Foram ainda eles - segundo Filipe Cordeiro de Souza Algatão, autor do artigo "O tropeiro como propagador cultural e mola mestra da cultura cafeeira no século 19" - os responsáveis pelo início de vilas que, posteriormente, se tornaram cidades, como São Luiz do Paraitinga e Taubaté.
E o objetivo do museu, criado em 2014, é representar o chamado "tropeirismo de sobrevivência", marcado na região, principalmente, por humildes tropeiros, que conduziam as tropas de mulas e burros cargueiros pelas estradas do Vale.
"Há quatro anos fomos convidados pela Canção Nova (comunidade católica) para participar de um desfile em Cruzília (MG). Então, tivemos a ideia de levar o tropeirismo do Vale do Paraíba - que, inclusive, tem o mesmo estilo do Sul de Minas", disse o fazendeiro.
A partir daí as "tralhas" guardadas foram sendo organizadas, peças históricas foram doadas e o museu tomou forma sob a supervisão de Galvão, Marcos Antonio (o Davó), Luiz Fernando e Juninho do Ferro Velho, com o apoio de amigos que fazem parte das cavalgadas de que o grupo participa há anos.
Acervo
O Vale das Tropas possui dois espaços: a entrada representa a casa do tropeiro, onde o grupo cozinha comidas típicas, serve um saboroso café típico e conta causos e costumes do povo viajante; e, no outro cômodo, são guardados os objetos usados nos animais. São cangalhas, arreios, balaios, traias e utensílios de cozinha, entre outros acessórios.
O item preferido dos pesquisadores é um cincerro (tipo de sino) doado por um antigo tropeiro de Minas Gerais. A peça era pendurada no pescoço do animal que vai a frente puxando a tropa. "Todo o mundo ouvia quando eles estavam se aproximando. Cada sino emite um som diferente e isso caracteriza a tropa", explicou.
Apesar de possuir um espaço físico na estrada do bairro Pedrinha, o museu funciona de forma itinerante: já foi montado no Revelando São Paulo; na Festa do Tropeiro, em Silveiras; na Expoguará, em Guaratinguetá; e até em programas de televisão, como "Terra da Padroeira" (TV Aparecida) e "Canção Nova Sertaneja" (TV Canção Nova).
"A gente monta uma tenda, igual os tropeiros montavam quando iam fazer o pouso durante a viagem. Levamos as comidas mais simples que eles comiam para mostrar como era na época, servimos um cafezinho e contamos a história do tropeirismo no Estado de São Paulo com as características do Vale do Paraíba", disse o fazendeiro. "Tropeirismo para nós é coisa séria e ficamos sentidos pela cultura não ser divulgada em escolas porque é um assunto que tem tudo a ver com a nossa região e com o país".
Para o futuro, o sonho do grupo é viabilizar o funcionamento do museu a fim de receber visitas, principalmente de crianças. "Nossa intenção é passar adiante a riqueza cultural daqui e essa importante parte da nossa história", destacou Davó.
Serviço.
Para conhecer o espaço do museu, é necessário entrar em contato com Galvão e agendar visita. Tel.: (12) 99730-9277..