29 de novembro de 2024
Julio Codazzi

Eleição tem cartas dentro e fora de baralho

Por Julio Codazzi é editor-executivo de OVALE |
| Tempo de leitura: 2 min

De tão boa e precisa, a frase já virou clichê. Mas nunca é demais relembrar a sentença de Magalhães Pinto (1909-1996), velha raposa da política mineira. "Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou", afirmou, com imensa sabedoria.

Faltando pouco menos de seis meses para a eleição presidencial de 2022, seria prudente seguir o ensinamento acima e não cravar nada sobre a disputa. Afinal, são mais de 170 dias pela frente, nos quais muita nuvem vai passar - algumas trazendo tempestade, inclusive.

Mesmo assim, ao que tudo indica, dois grupos já podem tirar o cavalinho da chuva. O primeiro deles é o que acreditava (ou ainda acredita?) em uma consolidação da terceira via. Do lado do centro que tende a cair para a direita, o principal problema parece ter sido a falta de consenso. São muitos nomes. Sergio Moro, João Doria, Eduardo Leite, Simone Tebet. E os dois que mais insistem na disputa parecem ter não apenas dificuldade de crescer, mas também um teto baixo. Para o eleitorado mais à esquerda, Moro é o juiz parcial da Lava Jato e ex-ministro de Jair Bolsonaro. E Doria será sempre lembrado pelo BolsoDoria que ele mesmo cunhou. À direita, Moro e Doria são vistos como traidores do presidente. Por isso, têm dificuldade de roubar votos de ambos os lados. Por potencial, o nome mais factível seria o de Leite, mas nem no próprio partido há consenso.

Do lado do centro que tende a cair para a esquerda, Ciro Gomes tem em Lula uma montanha intransponível. Quase não há lastro para o pedetista crescer e aparecer como nome viável.

Quem também pode tirar o cavalinho da chuva era o grupo que esperava (ou ainda espera?) que Bolsonaro derretesse e Lula encaminhasse uma vitória ainda no primeiro turno. Apesar de todas as atrocidades cometidas pelo presidente, como o negacionismo irresponsável na pandemia, o Bolsolão do MEC, o edital bilionário superfaturado para compra de ônibus escolares, entre outros fatos recentes, o momento é de crescimento nas pesquisas. Mesmo o PT já admite que Bolsonaro e Lula possam chegar empatados às vésperas do primeiro turno.

Por isso mesmo, Lula, que até então estava jogando parado, começou a agir. Antecipou o anúncio de Geraldo Alckmin como vice, num aceno ao empresariado. Mas, embora seja um comunicador carismático, terá que se adaptar na primeira eleição que disputa na era das redes sociais. Nos últimos dias, o petista derrapou em declarações desastradas sobre aborto e militares.

Ainda tem muita água para rolar. Mas, ao que tudo indica, não são as nuvens do céu de 2 de outubro que definirão a eleição para presidente da República. E sim as de 30 de outubro, no segundo turno.