26 de dezembro de 2024
Fabiano Porto

A “evolução” do capitalismo é a melhor solução para um futuro desejável de regeneração

Por Fabiano Porto (@f_porto) |
| Tempo de leitura: 4 min
A “evolução” do capitalismo é a melhor solução para um futuro desejável de regeneração

O capitalismo precisa “evoluir”. A necessidade de uma atualização em nosso modo de produção para um modelo onde a natureza e os recursos naturais são integrados aos resultados financeiros é imperativo para nosso próprio futuro como civilização. Não podemos mais continuar considerando apenas o resultado bruto (PIB) como principal indicador de desenvolvimento, e nem aceitar devastações e desequilíbrios ambientais em nome do lucro irresponsável. Seja qual for o nome, um novo “capitalismo ecológico”, “consciente” ou “regenerativo” precisa se tornar realidade.

Ao longo da história, o capitalismo se mostrou o modo mais eficiente de produzir e distribuir riquezas. Em um fluxo natural de acontecimentos, o capitalismo de desenvolveu sempre acompanhando as evoluções da humanidade. Ele pode ser dividido em fases e sua história demonstra o quando realmente chegamos em um momento em que uma nova etapa precisa ser inaugurada de forma ampla em todo mundo.

Antes do capitalismo, o mundo vivia sob o sistema Feudalista, com os reis soberanos e absolutos de todas as propriedades privadas e única fonte de comércio para os plebeus que trabalhavam em todas as áreas fundamentais, da agricultura aos trabalhos manuais e de construção. Tudo era do Rei, que oferecia a proteção do castelo em um tempo onde ataques eram comuns. Mas o crescimento dos feudos gerou um novo fenômeno do comércio além das “fronteiras reais”, e este novo fluxo de riqueza deu origem a uma nova classe que revolucionaria a história: a burguesia.

Esta nova classe social possibilitou plebeus ascenderem economicamente e questionarem os poderes absolutos dos reis, inaugurando a primeira fase do capitalismo: o mercantilismo, que existiu durante o período das navegações e grandes descobrimentos, século 15 até 18, e foi caracterizado pelo comércio direto entre as pessoas. A moeda se consolidu neste momento para facilitar as trocas. 

Em seguida, entre o 1750 até meados de 1850, o modelo econômico evoluiu para o capitalismo industrial. E neste momento as bases do sistema atual baseado na depredação e exploração irracional da natureza iniciou. O surgimento das máquinas à vapor, do uso do carvão como combustível, das indústrias têxteis e metalúrgica revolucionaram o planeta, às custas de jornadas de trabalho exaustivas e extremamente prejudiciais à saúde humana. Não à toa, a revolução francesa em busca de igualdade, fraternidade e liberdade surgiu bem nesta época, em 1789, e deu origem ao chamado “direitos humanos”.

Mas o mundo continuou a evoluir e a interconectividade do planeta deu origem à terceira fase do capitalismo, chamado de “financeiro”. Neste momento, inaugura-se uma forma nova de obter riqueza: pela especulação. Ou seja, pela primeira vez na história, a riqueza não estava apenas associada ao patrimônio acumulado, mas sim as expectativas de projeções futuras. Está criada assim a bolsa de valores, e neste tempo também, em 1913, é fundado o Federal Reserve nos EUA, que detém com exclusividade a produção e distribuição do Dollar. Anos depois, o ouro parou de ser usado como lastro econômico global, e a moeda americana passa a ser a principal referência de riqueza.

Mas o crescimento da globalização e da interconectividade pela internet fez o capitalismo “evoluir” mais uma vez, agora para uma era “informacional”, onde a especulação que gera riquezas está completamente conectada ao fluxo de informações e conhecimento gerados na rede. Neste mundo, um simples tweet de 200 caracteres é capaz de fazer uma empresa perder (ou ganhar) bilhões de dólares. Em um “piscar de olhos”, tudo muda e uma empresa sólida pode ser colocada em cheque a nível global.

Mas agora, em 2022, chegamos em um ponto novo e nunca vivenciado pela humanidade, onde um fator externo exige uma adaptação de todo modelo econômico: o equilíbrio da natureza. O capitalismo nunca conheceu limites, e sempre encarou a natureza como fonte de exploração ou “externalidades” a serem superadas, e não conservadas e integradas. É como se agora existisse um limite real, porém complexo e multifacetado, para o crescimento do capitalismo atual.

O desenvolvimento da ciência também possibilitou um novo fato: hoje temos absoluta certeza dos efeitos nefastos da exploração humana nos ciclos da natureza, e suas consequências negativas já são anunciadas e previsíveis com riquezas de detalhes.

Como falei em meu último artigo “Sustentabilidade ou morte. A humanidade entre a extinção e a regeneração”, o primeiro passo para esta “evolução” é a adoção de novos indicadores de desenvolvimento humano, que substitua o arcaico PIB. Precisamos considerar os impactos sociais e ambientais na conta do crescimento econômico. Não há saída. Este é o único caminho.

A esperança é que as soluções já existem ou estão em pleno desenvolvimento. Novos indicadores e modelos econômicos surgem cada dia mais promissores. A pergunta que ainda está em aberto para nosso futuro é se esta mudança se dará na intensidade e velocidade necessária para evitar um futuro de colapsos climáticos, sociais e ambientais.

Como cidadãos podemos acelerar muito esta transformação, ao só consumir, votar em políticos e contribuir com empresas e instituições que possuem compromissos sólidos com a sustentabilidade e responsabilidade social.

É uma missão árdua, complexa e talvez até improvável diante das desmedidas ambições e egoísmo do modelo econômico atual. Mas a possibilidade de um novo “capitalismo ecológico” é a única e melhor esperança para uma mudança sistêmica a nível global para futuros desejáveis de regeneração, e uma razão a qual vale a pena dedicar uma vida toda de trabalho.