27 de dezembro de 2024
Especial

O futuro é feminino: atuação das mulheres anuncia que a sociedade pode ser mais humana

Por Renata Del Vecchio |
| Tempo de leitura: 4 min
Artista turco Aykutr Aydogdu retrata or universo da mulherr em obras surrealistas

O futuro é feminino. E nele estará presente o passado escrito até aqui em busca da conquista de direitos,

reconhecimento e liberdade. Tomadas por uma força transformadora, elas deixam claro: o futuro nascerá do ventre de mulheres que ousam romper padrões para fazer florescer um mundo mais sensível, empático, humano e igualitário, capaz de abarcar a todos.

Uma série de exemplos recentes nos fazem apostar no quanto este futuro, permeado pela força e a atuação

feminina, é promissor. Um deles é Greta Thunberg, ativista ambiental sueca, que aos 17 anos, exige

medidas concretas de políticos contra o aquecimento global, inspirando uma greve que já reuniu milhares de manifestantes pelo mundo. Neste ano, a jovem doou R$ 600 mil para combater o coronavírus na Amazônia.

Impactada pelo tema da mudança climática desde os 8 anos, Greta passou por um período de depressão aos 11, parou de ir à escola e decidiu protestar, em frente ao parlamento de Estocolmo, onde ganhou a atenção de líderes globais.

Também merecem ser citadas as duas brasileiras que sequenciaram o genoma do coronavírus, as cientistas Jaqueline de Jesus e Ester Sabino, no laboratório de Medicina da Universidade de São Paulo. Sem falar da atuação feminina, comprovada em estudo no Reino Unido, que mostrou que países liderados por mulheres responderam melhor à pandemia do coronavírus.

Foi o caso da Nova Zelândia, que com a atuação da primeira-ministra Jacinda Ardern, conseguiu controlar o vírus no país, a partir da ação rápida e estratégica dela, ao adotar medidas rigorosas de isolamento e testagem. Mãe de uma menininha de um ano, Jacinda é uma das poucas líderes da história a dar à luz ocupando um alto cargo político. Desde então, tem trabalhado para mudar a maneira como o país lida com as mães.

“É preciso admitir que a liderança hegemônica dos homens falhou em garantir o desenvolvimento de uma sociedade saudável. Após 150 anos de liderança essencialmente masculina, muitos aspectos da vida humana melhoraram, mas faltou justamente o atributo do cuidado, respeito e empatia. Esta ‘liderança pela força’, com o objetivo de ganho próprio, direcionou o nosso desenvolvimento a considerar a natureza, os ciclos e as espécies dela, um obstáculo ao desenvolvimento”, disse Fabiano Porto, do instituto Regeneração Global.

Sutileza. Ao discutir os atributos de um futuro mais feminino, também é importante destacar quem já assimilou a importância desse movimento, como o artista turco Aykut Aydogdu, autor de obras surrealistas, todas exclusivamente criadas a partir da sutileza e do universo da mulher. Na primeira edição de Vivacità (capa), as metáforas visuais dele ilustram bem a importância desse caminho de renovação.

“Características femininas, que também podem ser desenvolvidas em homens, incluem sensibilidade, senso de cuidado e empatia mais apurados, além de maior aptidão ao diálogo e ao trabalho cooperativo. As mulheres tendem a sempre escolher caminhos para resoluções mais pacíficas e conciliadoras”, acrescentou Fabiano.

Neste cenário, e, frente à necessidade de se reinventar, a “força feminina” estará cada dia mais presente na sociedade, seja por meio de mais mulheres em posições de liderança ou porque elas estão assumindo outros papéis, como o de provedora financeira, já que no segmento de negócios a presença delas é cada vez mais constante.

“É uma tendência vermos crescer os indicadores de presença feminina nas iniciativas empreendedoras. Elas oferecem novas formas de tomada de decisões e influenciam lideranças masculinas para maior sensibilidade e empatia, algo que todos nós devemos ter daqui para frente se quisermos viver em equilíbrio e harmonia”, defendeu Porto.

Apoiar essa atualização de um sistema de hegemonia masculina, abrindo espaço para a diversidade e o potencial feminino, é o que também defende Melinda Gates, na atualidade uma das mulheres mais poderosas do mundo.

Em “O Momento de Voar”, ela, que demonstrou ser muito mais que a esposa de Bill Gates, escreveu que ao investir em uma mulher, o investimento é na comunidade, pois todos prosperam. Fascinada desde a infância por lançamentos espaciais, ela faz uso de uma metáfora para ressaltar que apoiar esta ideia é o ponto de partida para a mudança.

“Não havia nada mais empolgante do que o momento da ignição dos motores. A terra iria tremer e chacoalhar e aí o foguete começaria a subir. O momento do voo. O momento em que superamos a gravidade. É isso que eu quero para as mulheres. Quero ver o que nos ergue sobrepor aquilo que nos põe para baixo. Porque eu acredito que quando se enaltece as mulheres, você eleva toda a humanidade. Nós somos as propulsoras dessa mudança”, escreveu.

Assim como a cientista Melinda, Fabiano Porto também defende a importância de apoiar e estar integrado a esse movimento. “Isso não é para provocar uma hegemonia feminina, é para reestabelecer o equilíbrio. Precisamos de diferentes pontos de vista e uma maior presença feminina, sem dúvida, contribuirá em todos os aspectos, do equilíbrio social ao econômico, dentro da família ou do país”.

Se o futuro é feminino, talvez essa reflexão tenha despertado questionamentos do tipo: “mas o que as mulheres estão fazendo hoje para criar essa força transformadora?” Bem, neste caso é melhor que o próprio presente se apresente.