19 de dezembro de 2025
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Downgrade: por uma vida simples

Por Paula Maria Prado@paulamariaprado |
| Tempo de leitura: 2 min
Trimmm... Alô?

Menos é mais, diz a velha máxima. E, em tempos de celulares cheios de funções, grande quantidade de informações e comunicações interpessoais na "velocidade da luz", há quem dê um reino por uma vida mais simples.

O chamado "Deliberate Downgrading" (Downgrade Deliberado) é uma tendência. Nela, pessoas têm optados por versões mais básicas de serviços e produtos.

Quem revelou o comportamento que tem se desenhado nos últimos anos foi o futurista Rohit Bhargava, fundador da Non Obvious Company, que ajuda o mercado a enxergar quais os caminhos do comportamento humano, principalmente relacionados ao consumo.

O assunto foi discutido ainda na última edição do festival SXSW, nos Estados Unidos. Segundo especialistas, esse downgrade é resultado de uma busca pela simplificação de processos e por experiências que tragam memórias mais agradáveis e "confiáveis".

As marcas entenderam o recado. Não à toa, a Nokia resgatou recentemente seu clássico 3310 (aquele "tijolão" lançado originalmente nos anos 2000), em nova versão.

Hábitos.

Serviços de streaming são bacanas, mas o café e o bate-papo na locadora de filmes são sagrados para o jornalista Thiago Coutinho, de Cruzeiro. Há um ano readquiriu um DVD e voltou a frequentar o local. "Alugo de tudo um pouco. Apesar da facilidade do streaming, gosto de ir até a locadora tomar um café com o dono, conversar sobre filmes", contou.

Já o fotógrafo Alan Colet, de São José, abriu mão de seu iPod quando entrou em contato com o toca-discos,presente de seu tio. "Ouço pela qualidade do som. Acho discos mais pessoais, gosto de colocar a faixa que quero ouvir manualmente. Curto também as capas dos discos", afirmou.

A busca por uma vida mais simples é também uma reação a polêmica obsolescência programada: celulares, computadores e carros se tornam obsoletos em pouquíssimo tempo e as inovações oneram os bolsos e a vida.

"As pessoas querem estar mais conectadas ao mundo real. E querem voltar a sentir e viver as experiências da vida sem subestimar os avanços da tecnologia, mas entendendo que equilíbrio é bom", afirmou Thiago Valadares, especialista em comportamento digital, da Seven Grupo Digital.

"Alguns pais, inclusive, voltaram a usar brinquedos e fazer brincadeiras antigas, que não precisam de tecnologia", continuou. "Restaurantes têm o sinal de web bloqueado para que as pessoas de fato conversem entre si. E muita gente tem deixado as redes sociais".

Segundo ele, é possível traçar um paralelo entre o "Deliberate Downgrading" e movimentos como "Comfort food" (comida que detém um valor nostalgico ou sentimental), "Slow Fashion" (moda sustentável) e "Slow Food" (melhoria da qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto e o meio ambiente).

"Esses movimentos buscam a raiz ou um uso mais adequado de tudo na vida, seja na moda, na culinária ou no mundo digital. Olhar para o passado é pensar no futuro. A harmonia nas relações é muito importante", concluiu..